Cabo de Hornos nasceu como um dos vinhos de alta gama do grupo San Pedro. Como em muitos vinhos de grande ambição da década de 1990, o foco estava na Cabernet Sauvignon, porém como a sede da vinícola já estava bem estabelecida no vale de Curicó, o caminho natural foi identificar as melhores parcelas de Cabernet Sauvignon daquele entorno para a produção do vinho.
Assim, em 1994 nasceu Cabo de Hornos, lançado ao mercado em 1997. “Na época as videiras estavam com mais de 50 anos e plantadas sem irrigação e em pé-franco. Hoje essa vinha velha é engarrafada para a linha 1865 Old Vines Cabernet Sauvignon”, comenta o enólogo Gabriel Mustakis.
Naquela época, a cabernet era vinificada em balseiros (tanques abertos de madeira) e estagiados em barricas novas de carvalho. Em meados da década de 2000 o estilo do vinho mudou e passou a receber aportes da Syrah e da Malbec, deixando de ser unicamente de Curicó e passando à denominação genérica de Valle Central. Em 2007 o Grupo San Pedro comprou a vinícola Altair, que produzia apenas dois tintos e ambos de alta gama.
Seis anos depois da incorporação de Altair, o grupo de vinícolas reorganizou suas linhas e criou a divisão “Grandes Vinhos de San Pedro”, que reúne todos os ícones do grupo sob supervisão de um único enólogo (na época Marco Puyo com consultoria de Paul Hobbs): Altair, Sideral, Cabo de Hornos, Kankana de Elqui e Tierras Moradas estavam embaixo do mesmo guarda-chuva e com a mesma visão enológica. Hoje, Kankana e Tierras Moradas são vendidos unicamente no Chile.
Em Cabo de Hornos, a decisão do jovem e talentoso Gabriel Mustakis, contratado em 2018, foi por manter o protagonismo da Cabernet Sauvignon, mas buscando as uvas no vale de Cachapoal, perto da sede da Altair, e mais exatamente da zona de Totihue. Na vinificação, a cabernet segue distintos caminhos. As uvas são divididas em diferentes lotes, conforme as parcelas do vinhedo e são fermentadas em tanques de inox e tanques de cimento. Em seguida, o vinho é dividido em novos lotes e seguem para estágio tanto em foudres (barris de 2.000 litros de carvalho) como em barricas novas e usadas de carvalho, pelo período total de 22 meses.
Na degustação vertical realizada com 4 safras de Cabo de Hornos foi possível provar 4 momentos do cenário dos tintos chilenos.
Cabo de Hornos 1997
92 pontos
100% Cabernet Sauvignon de Curicó (Lontué). Nariz intenso com frutas vermelhas maduras (cereja), eucalipto, terra e especiarias (pimenta da Jamaica e alcaçuz). Na boca os taninos estão macios e domados pelo tempo mas ainda presente em grande quantidade, ao lado a acidez plenamente integrada. Potente, untuoso, com toques de violeta cristalizada e final com as notas terrosas (terra molhada, fumo de corda e tabaco) compatíveis com as mais de duas décadas de vida.
Cabo de Hornos 2007
92 pontos
A Cabernet recebe a companhia de Syrah e Malbec. O vinho evolui lentamente e reproduz o estilo concentrado e com presença mais marcante das barricas de carvalho. Fruta negra madura e concentrada (licor de cereja, ameixa madura e amora), com baunilha e toque de tabaco. O estilo moderno se reflete na textura aveludada dos taninos, muito finos e começando a amaciar, ao mesmo tempo com fruta íntegra e cristalina. Tanto álcool quanto acidez estão bem integrados e deixam o conjunto agradável para se beber já. Final longo com leve defumado, baunilha e cravo.
Cabo de Hornos 2015
93 pontos
Aqui há um retorno à expressão varietal da Cabernet Sauvignon, mas de Cachapoal (Quillayes). Um momento no qual a fruta está mais contida, o que permite observar novas camadas que vão se revelando no vinho. Nariz com violeta, fruta negra (licor de cassis e cereja), pão tostado, baunilha e mentol. O álcool traz certo calor na boca, que se destaca pelos taninos, em enorme quantidade e muito finos. Os toques de tomilho e coco queimado remetem a um perfil de Rioja, mas com maior intensidade e potência.
Cabo de Hornos 2018
R$ 483,54 - Interfood/TodoVino
95 pontos
Apesar da jovialidade, já se mostra o melhor Cabo de Hornos do flight degustado. A Cabernet Sauvignon (100% de Cachapoal, setor de Totihue, mais fresco que Quillayes) mostra uma feição floral e com um toque muito sutil da pirazina que aparecia na safra 1997 (eucalipto sutil que aporta sensação de frescor). Acidez e taninos em níveis altos mas em equilíbrio e que devem se integrar daqui a alguns anos na garrafa. A fruta vermelha e negra maduras aparecem de forma pura e complementada por especiarias, flores secas e tostado discreto. Um conjunto complexo mas fácil de agradar e que deve melhorar com o tempo. Sem dúvida, um exemplar para se colocar na elite dos cabernet chilenos.