Entrevista: Matheus Thomaz

Fotografia: Divulgação
Eugênio Oliveira

Eugênio Oliveira

Matheus Thomaz é um inquieto sommelier de Uberlândia, que decidiu produzir vinhos inusitados em parceria com algumas vinícolas do Rio Grande do Sul. De pinot noir a espumante com licor de cachaça, passando por clarete de tannat, ele tem feito exemplares de deixar queixos caídos de tanta originalidade. De olho nas tendências do mercado, GULA não perdeu tempo e foi falar com o autor de tantas ousadias. Os vinhos respondem ao nome Projeto Origens. Nesta conversa, Matheus fala mais sobre a empreitada:

 

Gula: Como surgiu a ideia de fazer vinhos pelo Projeto Origens?

 

Matheus Tomaz: A ideia de fazer vinhos pelo Projeto Origens surgiu a partir da demanda de clientes por vinhos com alta qualidade e preços acessíveis. Como os clientes achavam vinhos Premium mais caros, optamos por fazer os nossos próprios vinhos de acordo com o meu gosto pessoal combinado com o que os clientes procuravam.

 

 

Gula: Em que se baseiam os conceitos de quais vinhos serão produzidos?

 

MT: O conceito é bem simples. Nos baseamos em vinhos de regiões já conhecidas da Europa para elaborar os nossos aqui no Brasil. Buscamos estilos de vinhos mais europeus e elaboramos esses vinhos com a cara do Brasil. Não adianta querer fazer por exemplo um autêntico Borgonha em solo brasileiro. Porém, podemos buscar elaborar algo próximo do que é feito lá. Não queremos copiar nem fazer igual. Queremos apenas um estilo para que tenhamos referências sobre o que estamos fazendo e para os clientes saberem o que estão bebendo.

 

 

Gula: O projeto teve início em que ano e quais rótulos foram produzidos até agora?

 

MT: O projeto teve início em 2012, quando criamos os nossos dois primeiros vinhos tintos. Na sequência negociamos com a Don Giovanni um Pinot Noir para teste que encontramos parados nada adega deles. Na sequência fizemos o primeiro branco em 2015. Em 2016 fizemos nosso primeiro espumante que levou o licor de cachaça. Em 2018 criamos o nosso segundo branco e em 2019 fizemos o nosso primeiro Rosado. Foram sete vinhos no total até agora.

 

 

Gula: Como tem sido a aceitação do consumidor?

 

MT: No início do projeto a aceitação foi bem difícil porque as pessoas ainda não conheciam. Com o tempo as pessoas foram conhecendo e provando os vinhos, e com as redes sociais , temos o nosso Instagram, que ajuda muito a divulgar as impressões dos nossos clientes e isso tem ajudado bastante, já que agora as pessoas ouvem falar mais sobre os vinhos, as avaliações de guias e revistas importantes do setor e vem surgindo maior interesse pelo o quê fazemos com os parceiros.

 

 

Gula: Restaurantes têm mostrado interesse ter os vinhos nas cartas?

 

MT: Temos apenas um restaurante que usa os vinhos na carta deles. O interesse é maior pelo consumidor final, já que não conseguimos trabalhar com margens de desconto altas devido ao fato de já comprarmos os vinhos com preços altos.

 

 

Gula: Houve parcerias com quais vinícolas até agora no projeto?

 

MT: Até agora tivemos parcerias com as seguintes vinícolas: Valmarino, Don Giovani, Don Guerino, Aracuri, Dom Bortolo e Casa Olivo.

 

 

Gula:Há algum vinho já engatilhado para um próximo lançamento ou pretende dar vazão aos já lançados primeiro?

 

MT: Sim temos ideias e novas inspirações, porém nem todo parceiro topa fazer as nossas aventuras, então sempre estamos à procura de novos parceiros. Nossa ideia é primeiro lançar uma nova safra do espumante champenoise com cachaça na versão Brut e talvez Nature. Estamos pensando também em um tinto de médio corpo que seja agradável de beber e tenha um bom potencial para ser guardado.

 

 

Gula: O que é mais fácil, fazer ou vender os vinhos?

 

MT: Com certeza é muito mais fácil fazer os vinhos do que vendê-los. Vender vinhos em um volume maior exige um trabalho de divulgação e dedicação ao comércio que é totalmente diferente de elaborar os vinhos. Por isso admiro muito os produtores que conseguem fazer e vender os seus próprios vinhos pois são duas artes completamente diferentes a de fazer ou elaborar e a de vender.

 

 

Gula: O cliente do Projeto Origens é o consumidor iniciante ou o já é alguém com alguma estrada, que provou bastante coisas?

 

MT: Os clientes do projeto origens são desde iniciantes até pessoas que já conhecem um pouco mais sobre os vinhos. Buscamos desenvolver vinhos que sejam interessantes para todos e para isso procuramos vinhos que sejam agradáveis de apreciar.

 

 

Gula: As vinificações são todas feitas no lugar de origem. Você as acompanha?

 

MT: As vinificações são feitas a maioria no lugar de origem. Mas, por exemplo, o nosso branco de pinot grigio, as uvas vêm de Campos de cima da Serra e foram vinificadas em Flores da Cunha.  No caso das uvas que vêm da Aracuri, as uvas são de Campos de Cima da Serra e vinificadas em Caxias.

 

 

VINHOS AVALIADOS PELA GULA:

 

CHAMPEN*UAI*SE 2016

Brasil / Pinto Bandeira / Espumante – 120,00R$

 

Subversão de Matheus Thomaz. Um espumante de método Champenoise em que no lugar do licor de expedição adicionou cachaça mineira amadurecida em tonéis de carvalho, Jequitibá e Umburana. Dourado reluzente, cítrico, fresco e salivante. Limão e caldo de cana ébrio. Criativo, ousado e delicioso – 94

 

 

CLARIN TANNAT 2019

Brasil / Alto Feliz / Rosé – R$ 79,00

 

O sommelier Matheus Tomaz do Projeto Origens (Uberlândia/MG) subverteu a vocação da tannat e fez um rosé pálido com estrutura que lembra o clarete, estilo que os ingleses tanto adoram. Vinho inusitado, indisciplinado, que a curiosidade não te deixará em paz até prová-lo