Michelini i Muffato, o Novo Mundo conquista o Velho Mundo

Enólogo argentino apresenta vinhos produzidos pela família na Espanha

Fotografia: Divulgação
Marcel Miwa

Marcel Miwa

O sobrenome Michelini já pode ser considerado uma verdadeira dinastia no cenário dos vinhos argentinos. Gerardo, Matías, Juan Pablo e Gabriel Michelini trabalham juntos em Zorzal e os três primeiros se dividem em diversos projetos vinícolas no país, onde ganharam fama com seus vinhos alinhados com a era pós-Robert Parker. Com foco no vale de Uco e suas microrregiões, os Michelini se tornaram conhecidos por vinhos frescos, com extrações e uso de barricas moderados nos vinhos.

Gerardo, o primogênito, tem seu projeto familiar, Michelini i Mufatto. Se por um tempo Gerardo era conhecido como o “outro Michelini”, por ser menos conhecido que os outros dois irmãos enólogos (Matías e Juan Pablo), hoje seus vinhos já o colocam como protagonista e cruzam fronteiras e gerações. Manuel Michelini é filho de Gerardo Michelini e Andrea Mufatto. Aos 26 anos é um dos pilares da vinícola. “Acompanho o trabalho nas vinícolas desde os 12 anos de idade; tinha a certeza que trabalharia nisso”, disse Manu, em uma escala em São Paulo, entre Mendoza e Madri, para cuidar dos vinhedos espanhóis da família.

No começo de 2015, quando formalmente nasceu Michelini i Mufatto na Argentina, a família recebeu na Argentina um amigo de Raúl Pérez, um dos enólogos mais respeitados da Espanha e responsável pelo renascimento dos vinhos de Bierzo. A hospitalidade recíproca foi oferecida de volta. Assim, Gerardo e Andrea foram para Bierzo no mesmo ano. “Curiosamente, a viagem seria para visitar Ribeira Sacra, próximo de Bierzo, mas o cenário e a receptividade foram tão excepcionais que não chegaram lá”. As escarpas íngremes, com solo de xisto escuro e vinhas muito velhas (principalmente Mencía) compõem o cenário dos vinhedos em Bierzo. Assim, com o apoio da família Pérez encontraram parcelas de vinhedos e uma bodega para vinificar seus vinhos, já em 2015.

Todos os vinhedos da família em Bierzo são biodinâmicos, as uvas são todas pisadas a pé, com fermentações espontâneas, em ânforas de argila e grandes barris usados de carvalho.

A produção de Michelini i Mufatto em Bierzo é dedicada apenas aos tintos, com base na Mencía, e uma abordagem bourguignon, com um vinho “villages" e quatro “crus”. O En El Camino 2019 (91 pontos - R$ 200, na Vinoterra), se mostra um tinto elegante, extremamente fácil de se beber, com o mineral xistoso que lembra alguns vinhos do Priorato e do Douro (grafite e pólvora), frutas vermelhas e negras frescas, taninos delicados e o frescor no primeiro plano. Uma leveza e seriedade compatíveis com a expressão de um grande Cru de Beaujolais, mas com temperos únicos de Bierzo e da Mencía.

Entre os “crus”, provamos o A Merced 2015 (93 pontos - R$ 420, na Vinoterra), uma parcela de 1,2 hectare de vinhedo, a 700 metros de altitude e videiras com mais de 80 anos de idade. Apesar de ser a primeira safra na região, a família já acertou a mão e o vinho está um belo momento de evolução. Frutas negras frescas e maduras integradas aos minerais (grafite, pólvora e ferro), toque de flores secas e especiarias no nariz (toffee, noz moscada e canela) seguida de estrutura tirânica firme e acetinada, com acidez e cremosidade em harmonia. Aqui os taninos estão no primeiro plano, mas estão empacotados com fruta e acidez.

E já que a família se divide com dois ciclos de colheita ao ano (uma em cada hemisfério), em 2020 inauguraram mais dois novos projetos, um no Uruguai (perto de Garzón) e outro em Rioja (Labastida), este, um projeto pessoal de Manuel Michelini.