O artesão do Jura

Vinícola familiar, Cellier Saint Benoit é referência na região francesa mais 'cult'

Fotografia: Divulgação
Miguel Icassatti

Miguel Icassatti

Situada logo a leste da Borgonha, a região francesa do Jura se espreme em um território de aproximados 70 quilômetros de Norte a Sul e de não mais do que 6 quilômetros de Leste a Oeste, desenhado por colinas e declives repletos de vinhedos, em muitos dos quais cultivam-se justamente as uvas típicas da região vizinha, como a Chardonnay e a Pinot Noir. Sem contar, é claro, a Poulsard, mais conhecida como Ploussard, variedade tinta “cult” predominante na zona de Pupillin, que pertence à sub-denominação de Arbois, localizada no Nordeste da região.  

É nesse pequeno pedaço do (também) nordeste francês, de invernos severos e paisagens selvagens, que se encontra um dos mais renomados produtores do Jura, Cellier Saint Benoit. Sob o comando de Benjamin Benoit, da quarta geração da família proprietária dos vinhedos, a vinícola originalmente vendia as uvas para a cooperativa local de Pupillin. Foi o pai de Benjamin, Denis Benoit, falecido em 2019, quem reformulou a filosofia de trabalho da casa, ao perceber o potencial das vinhas plantadas em 6,25 hectares. Ele aprimorou as técnicas de cultivo e, a partir de 2003, passou a vinificar na propriedade, dedicando muita atenção à agricultura orgânica e ao trabalho na adega. Os fertilizantes, por exemplo, são feitos também na propriedade e sua utilização só se dá quando necessário.

A produção anual é restrita a 12.000 garrafas, que resultam de um processo 100% artesanal, em todas as etapas: além do cultivo das uvas e da produção dos fertilizantes, vale destacar o cuidado de Benjamin Benoit – eleito enólogo ano de 2021 pelo guia francês Hachette des Vins – também no engarrafamento, feito de forma manual, assim como a aplicação da cera para vedação das garrafas. No campo, cerca de 65% das uvas são brancas, das variedades Chardonnay e Savagnin. Entre as tintas, há Pinot Noir, Trousseau e a já citada Ploussard. Da vinha ao despacho das garrafas para o mercado, Benjamin Benoit realiza um trabalho meticuloso, que requer paciência. Não à toa, os rótulos dos seus vinhos aludem ao senhorio do tempo, isto é, ostentam o desenho de uma ampulheta.

GULA participou de uma degustação exclusiva realizada pela Clarets, importadora de Cellier Saint Benoit no Brasil. Confira:

1. Cellier Saint Benoit Arbois Pupillin ‘La Marcette’ Chardonnay 2019
Oriundo de um vinhedo plantado em 1966, esse branco é vinificado em cuba de aço inoxidável e estagia em barricas de carvalho usadas. O olfato, surpreendente, exala notas florais inebriantes, como rosas e, num segundo momento, de frutas secas tostadas. Na boca é untuoso, com boa estrutura, acidez e longa persistência. A safra de 2019 rendeu 2863 garrafas. 93 pontos. R$ 469,80.

2. Cellier Saint Benoit Arbois Pupillin ‘Courbes Raies’ Pinot Noir 2019
Entre os tintos desta safra, é o que teve melhor rendimento: 2402 garrafas. Ao primeiro ataque, percebem-se aromas florais, violeta, e, a seguir, frutas vermelhas, lenha queimada e a tipicidade da Pinot Noir. 92 pontos. R$ 469,80.

3. Cellier Saint Benoit Arbois Pupillin ‘Gryphees’ Trousseau 2019
Em virtrude das geadas na primavera de 2021, o produtor perdeu toda a safra desse varietal. A safra 2019, porém, foi ótima. Mostrou-se complexo e elegante no nariz, com toques florais delicados, notas de cereja preta e especiarias. Na boca, é limpo, fresco, tem boa estrutura e passa uma bela sensação de pureza. 94 pontos. R$ 469,80.

4. Cellier Saint Benoit Arbois Pupillin ‘Cote de Feule’ Ploussard 2019
Com uvas plantadas em terreno mais íngreme em relação aos demais vinhos, é um vinho de excelente potencial, que, embora ainda mostre-se fechado, diz a que veio: notas florais, de frutas vermelhas, em especial morango, com um toque azedinho no final. Na boca, é delicado, fresco, com notas de especiarias, em especial pimenta. E a cor tem nuances terrosas, uma beleza. 92 pontos. R$ 499,20.