Pinot Noir: a rainha da elegância

Fotografia: reprodução da internet
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

 

Uva tinta muito antiga, de casca fina, amadurecimento precoce, cor aberta e baixa carga tânica, a pinot noir é frequentemente associada a vinhos elegantes, delicados, frescos, com boa expressão aromática e larga capacidade de envelhecimento. A Meca da pinot noir é a Borgonha. É lá, nas inúmeras variações de solos muito antigos e bem drenados de argila, marga e calcário, que a uva atinge a máxima expressão e define o estilo que é buscado, quase como um Santo Graal, por nove entre dez produtores de pinot no resto do mundo. Nesta edição do Gula Escola, conheça alguns fatos relevantes sobre esta que é a Rainha da Elegância no mundo das uvas:

 

 

OITO COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTER DE ABRIR O SEU ROMANÉE-CONTI:

 

1 – A pinot noir é uma uva originária do leste da França, muito antiga, com mutações bem estabelecidas como pinot gris, pinot blanc e pinot meunier. Com a gouais blanc, é mãe de uma série de outras variedades de uvas tais como Chardonnay, gamay e melon de bourgogne. Por ser tão antiga, possui uma enorme diversidade de clones, o interfere decisivamente no estilo e na qualidade dos vinhos.

 

2 – A pinot noir amadurece cedo. Este dado faz com que a uva prefira climas mais frios, nos quais consegue desenvolver melhor a carga aromática que possui sem que os níveis de ácidos na uva despenquem. No entanto, por conta da casca fina que tem, a pinot pode sofrer com chuvas fortes no outono, que podem em casos extremos apodrecer as frutas. É preciso controlar o rendimento. Uma produção excessiva de uvas compromete de forma irrefutável a qualidade do vinho feito com a pinot noir. Definitivamente, a pinot não é das uvas mais fáceis de se cultivar.

 

3 – Em termos aromáticos, a pinot noir costuma entregar frutas vermelhas como morangos, amoras silvestres, framboesas, cerejas. Dependendo do lugar onde ela está plantada, do clone e do ano, pode incluir aromas florais (especialmente violetas), incenso, especiarias, além de um lado vegetal mais marcado. Com o envelhecimento, começa a desenvolver aromas de cogumelos, trufas, alcaçuz, caça, chá e couro. Costuma funcionar bem com o estágio em madeira. No copo, tem cor aberta, não possui uma carga tânica muito acentuada, mas muitas vezes é vinificada com o engaço, o que faz com que sinta-se muito mais o tanino em boca. Costuma entregar vinhos leves, delicados, frescos e elegantes. Os bons, tem excelente capacidade de envelhecimento.

 

4 – Na Borgonha, o estilo do vinho depende muito da origem. Nos solos calcários em encostas suaves bem drenadas por cascalho, onde estão a maioria dos grand crus, a pinot noir se sente em casa. Costuma entregar vinhos extremamente harmônicos, expressivos aromaticamente e delicados por natureza. São a quintessência da elegância. Já as argilas aluviais mais retentivas de água no sopé das encostas também produzem vinhos impressionantes, mas com um pouco menos de elegância.

 

5 – Em outras regiões do nordeste francês grandes vinhos são produzidos a partir da pinot noir. Jura, Savóia, Sancerre, Alsácia, e, claro, Champanhe, são lugares onde a uva também consegue atingir níveis de qualidade semelhantes aos grandes vinhos da Borgonha.

 

6 – Fora da França, a pinot noir tem grande tradição na Alemanha, onde é chamada spätburgunder e faz o tinto mais conceituado do país. Na Áustria, onde às vezes é chamada de blauer spätburgunder, também faz vinhos de alta qualidade. Suíça, norte da Itália e Balcãs são outras zonas europeias onde a pinot regularmente gera bons exemplares.

 

7 – No Novo Mundo, o Oregon, nos Estados Unidos, e Martinborough e Marlborough, na Nova Zelândia, estão entre os melhores lugares para plantar pinot. Mas mesmo nestes dois países, há outras zonas que entregam vinhos interessantes a partir da casta. Russian River Valley, Carneros e as zonas mais costeiras de Sonoma e Santa Maria, nos Estados Unidos, e as regiões de Nelson, Waipara e Central Otago, na Nova Zelândia, são recheadas de bons rótulos feitos com a pinot. Na Austrália, Tasmânia, Yarra Valley e Geelong são bons sítios para a uva. No Chile, o Vale de Casablanca, especialmente em zonas ainda mais frias, tem se mostrado um bom lugar. Na Argentina, há muita pinot na Patagônia, mas muitas vezes os vinhos carecem de elegância.

 

8 – No Brasil, a pinot noir marca presença na Serra Gaúcha, onde é parte importante da boa leva de ótimos espumantes que o país produz, e mesmo em alguns tintos de qualidade produzidos na região. Em zonas como Campos de Cima da Serra e Vale dos Vinhedos, alguns bons, leves e descompromissados pinots têm aparecido nos últimos anos. Outros exemplares interessantes feitos com a uva tem Nova Pádua como origem.