Vertical Clos de los Siete

Participamos de uma degustação de várias safras deste vinho pioneiro no Valle de Uco

Fotografia: Divulgação
Marcel Miwa

Marcel Miwa

Degustações verticais, isto é, provas do mesmo vinho em diferentes safras, são sempre um exercício interessante e um desafio à personalidade de um vinho. Isto porque a grande maioria deles são feitos para serem provados jovens, momento que estão, segundo o enólogo, em seu ápice. São poucos os vinhos projetados para melhorar ao longo do tempo e além disso retratar nuances de clima ou técnicas de campo e vinificação que podem variar de ano à ano. 

E normalmente estes vinhos passam por processos mais cuidadosos e rigorosos, que culminam, sem surpresa, em preços mais elevados para o consumidor. Entretanto, exceções, principalmente no quesito preço, acontecem e merecem ser destacadas. Foi o que ocorreu com o argentino Clos de los Siete. 

A vinícola foi uma das precursoras na hoje badalada Uco, e pelas mãos de Michel Rolland, famoso enólogo, consultor e proprietário do Château Le Gay, em Pomerol (Bordeaux). 

Desde sua primeira viagem a Mendoza, Rolland vislumbrava o potencial da Malbec e do terroir mendocino para produzir vinhos. Em 1998 encontrou a “parcela” de 850 hectares em Vista Flores, na então pouco explorada Uco. “A ideia inicial de Rolland era um vinhedo com até 100 hectares, então o caminho foi procurar sócios para algo tão grande. E considere que Pomerol inteira tinha cerca de 700 hectares de vinhedo na época”, diz o enólogo Ramiro Barrios. Assim, a propriedade foi dividida em sete parcelas e hoje 4 famílias mantêm dentro de Clos de los Siete: Bodega Rolland (Château Le Bon Pasteur), Bodega Cuvelier de los Andes (Ch. Léoville-Poyferré), Bodega Diamandes (Ch. Malartic-Lagravière) e Bodega Montevideo (Château Le Gay entre outros).

Em 1999 as primeiras mudas foram plantadas, com predomínio da Malbec (cerca de 60% da superfície), claro, e complementada por outras variedades bordalesas. Em 2002 nasceu o primeiro vinho.

O Clos de los Siete é um vinho em que as quatro vinícolas cedem suas uvas para uma produção conjunto. “Embora Rolland saiba quais setores são mais consistentes para produzir o estilo de Clos de los Siete, tudo é definido por degustação. São centenas de amostras até se chegar à mescla final de cada ano”, comentou Barrios.

Para um vinho cujo preço está na faixa dos R$ 150 (importado pela wine.com.br), provado nas safras 2006, 2012, 2014, 2016 e 2018, Clos de los Siete entregou longevidade que justifica guardar uma garrafa, capacidade de retratar as nuances climáticas de cada safra e consistência na expressão floral da Malbec com polimento exemplar de taninos e, o que todos esperam, madeira, mas muito bem integrada e sem atropelar a fruta. Aqui uma injustiça na reputação associada a Rolland. Na safra 2018 de Clos de los Siete, por exemplo, apenas 20% do vinho passou por barricas novas e 30% do volume estagiou apenas em tanques de inox.

A seguir, os detalhes de cada safra, provadas todas às cegas.

Clos de los Siete 2018

Uco (Mendoza), Argentina

92 pontos

A estrela da degustação. Não por acaso vem de uma safra considerada histórica em toda Mendoza.  55% Malbec, 19% Merlot, 10% Cabernet Sauvignon, 12% Syrah, 2% Petit Verdot e 2% Cabernet Franc, com estágio em barricas francesas (70% do volume) por 11 meses. Expressão elegante, com mais complexidade que intensidade. Violeta, frutas negras frescas, álcool muito bem integrado, frescor na medida, fácil de beber, nada cansativo, com toques de especiarias e tosta da madeira ao fundo. Taninos muito finos, sem arestas e nenhuma agressividade. 

 

Clos de los Siete 2016

Uco (Mendoza), Argentina

90 pontos

Nesta safra o fenômeno El Niño influenciou o clima, com chuvas e temperaturas mais baixas. A mescla final levou 54% Malbec, 18% Merlot, 12% Cabernet Sauvignon, 12% Syrah, 3% Petit Verdot, 1% Cabernet Franc. Na taça o vinho mostra maior força na fruta que nas notas florais, com mais especiarias (canela e cedro) e menos tostados, dando feições mais bordalesas. A boa acidez faz o conjunto brilhar e os taninos já estão redondos. 

 

Clos de los Siete 2014

Uco (Mendoza), Argentina

89 pontos

O ano com extremos de calor. Entre as safras apresentadas, o ciclo com as maiores temperaturas registradas. Mescla de 54% Malbec, 18% Merlot, 13% Cabernet Sauvignon, 8% Syrah, 4% Cabernet-Franc e 3% Petit Verdot. O vinho apresenta extremos de calor do álcool com elevado frescor da acidez; difícil dizer se a integração virá com o tempo. Os taninos estão amaciados já e a fruta se apresenta com frutas vermelhas maduras e cristalizadas. O final já abre com algumas notas de evolução, como terra e charuto. 

 

Clos de los Siete 2012

Uco (Mendoza), Argentina

90 pontos

Também um ano considerado quente, porém mais comportado que 2014. 57% Malbec, 18% Merlot, 14% Cabernet Sauvignon, 9% Syrah e 2% Petit Verdot. Um estilo próximo de 2018. Com toques florais e de frutas negras frescas, que parecem um pouco tímidas no momento. No segundo plano, grafite, baunilha, com alguma austeridade dos taninos e leve calor do álcool. Um vinho que ainda tem fôlego para melhorar nos próximos anos. Final com alcaçuz, canela e tabaco. 

 

Clos de los Siete 2006

Uco (Mendoza), Argentina

91 pontos 

Em estilo e evolução se assemelha muito à safra 2012. 45% Malbec, 35 % Merlot, 10% Cabernet Sauvignon e 10% Syrah. Aqui há o mérito de não existir austeridade de tanino ou álcool. Fruta negra e violeta no primeiro plano, com baunilha e grafite como complemento na boca. Macio, redondo e fácil de beber e final com erva-doce, charuto e violeta. Limpo e elegante.