Cheval Blanc e Ausone desistem de ranking de St.-Émilion

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Redação

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A reputação da qualidade dos vinhos de Bordeaux se construiu tendo como base as classificações regionais. A mais conhecida, de 1855, que ranqueou os châteaux do Médoc e Sauternes, segue em vigor e baliza o reconhecimento de qualidade e, consequentemente, dos preços dos vinhos.

Na margem direita do estuário do Gironde está Saint-Émilion, que teve sua primeira classificação oficial criada em 1955 (reconhecida pelo INAO, instituto que controla as denominações de origem francesas). Em seu estatuto está prevista uma revisão a cada dez anos e, o que em princípio parece uma atitude de bom senso, tem causado grande polêmica na região. No passo mais recente, dois dos châteaux com a classificação mais elevada, “Premier Grand Cru Classé A”, Cheval Blanc e Ausone, decidiram não se submeter à revisão da classificação marcada para 2022. A decisão equivale a um restaurante três estrelas no Guia Michelin, por exemplo, devolver as estrelas – em um cenário de uma premiação que vigorará por uma década!

Os motivos alegados focam nos novos critérios para avaliação das propriedades, que incluem estrutura de recepção de visitas e distribuição e promoção dos vinhos na França e no exterior, além dos preços alcançados pelas garrafas, itens que não estão diretamente ligados à produção dos vinhos.

O descontentamento já havia sido sinalizado pelo Château Ausone desde a revisão de 2012, em que Château Angélus e Château Pavie foram promovidos ao nível mais elevado, no qual as outras duas propriedades reinavam sozinhas desde a primeira classificação, de 1955. Desde 2012 Ausone não traz a menção “Premier Grand Cru Classé A” no rótulo.

O gesto de Cheval Blanc e Ausone parece não afetar a procura pelos vinhos. Na recente campanha en primeur da celebrada safra 2020, Cheval Blanc foi o primeiro a divulgar seu preço na venda antecipada, e em nível muito próximo da safra 2019 (3% mais barato). As primeiras avaliações colocam Cheval Blanc como um dos destaques qualitativos de toda Bordeaux em 2020 e, segundo o índice internacional Liv-Ex – plataforma que rastreia os preços dos vinhos mais negociados no mercado –, a procura pelo vinho está entre as mais elevadas. Segundo o site Wine Searcher, o preço médio global alcançado por Ausone e Cheval Blanc ainda está bem acima dos seus pares de classificação. O preço médio da garrafa desses dois châteaux está acima dos 700 dólares, enquanto o “recém” promovido, mas com mesmo status na classificação, Château Angélus, tem preço médio de 423 dólares por garrafa.

Ainda que a venda, por ora, pareça não ter sido afetada, já há especulações a respeito de uma nova classificação ou um novo grupo de produtores, que compartilhem da mesma filosofia e padrão de qualidade na produção dos vinhos. Aguardemos os próximos capítulos.

(Marcel Miwa)