Mundo do vinho em alta: Evino compra importadora Grand Cru

Em entrevista exclusiva a GULA, o co-CEO da Evino, Ari Gorenstein, antecipa movimentos do que será o maior grupo varejista e omnichannel de vinhos importados no Brasil

Fotografia: Divulgação
Miguel Icassatti

Miguel Icassatti

Com receita prevista de 700 milhões de reais para 2021, o novo grupo formado por Evino e Grand Cru deve se tornar o terceiro maior importador de vinhos do Brasil, sendo o maior varejista e omnichannel de vinhos importados no país. É movimento ousado, que o co-CEO de Evino, Ari Gorenstein (no centro da foto, ao lado de Alexandre Bratt, CEO da Grand Cru, à direita, e de Marcos Leal, co-fundador da Evino, à esquerda)

GULA (G): O que representa para a Evino essa aquisição da Grand Cru?
ARI GORENSTEIN (A): Estamos superanimados, porque a gente vem crescendo muito até aqui, sempre focando no digital e tentando ganhar espaço também no off-line, via B2B, principalmente. E a gente vinha já traçando nossa estratégia no segmento premium, com a linha “Produtores Renomados”. Mas sabíamos que poderíamos explorar outras avenidas de crescimento e vínhamos falando com alguns players no mercado. Entre vários, nos aproximamos da Grand Cru no ano passado.

G: O que os atraiu na Grand Cru?
A: O que acabamos descobrindo, ao longo do tempo, é que havia muita complementaridade, com pouca sobreposição. E as sinergias são enormes. Temos sinergia de canal, de clientes, geografia, portfólio e, especialmente, expertise e know-how. Cada empresa se desenvolveu muito bem, fazendo o seu métier. A Grand Cru veio se profissionalizando desde a aquisição do fundo Aqua Capital. E quando começamos a olhar o que poderia ser o negócio combinado, enxergamos uma plataforma multicanal, omnicanal, de fato, muito poderosa, que pode trazer aos clientes B2B e B2C uma solução e uma proposta de valor inigualáveis.

G: E para as vinícolas parceiras?
A: Também. Estamos falando agora de um grupo que consegue trabalhar as marca no restaurante, no varejo, consegue dar visibilidade às marcas pelo digital e trazer essa narrativa para o cliente em 360 graus.

G: Como seguem as marcas?
A: As plataformas de venda Grand Cru e Evino persistem. Uma das coisas que a gente investigou e descobriu é que o posicionamento das duas marcas é muito particular. Os clientes se engajam, entendem o posicionamento de cada uma, são clientes diferentes tanto em canal quanto em perfil de consumo. Não queremos descontinuar nenhuma delas, queremos fortalecer e entender onde se complementam. Obviamente vai haver uma marca acima, da holding, corporativa, que ainda sequer demos nome a ela, mas que abraça as duas. E com o tempo traremos alguma consultoria para trabalhar a arquitetura de marca e a plataforma.

G: Quais os próximos passos?
A: A proposta de compra está passando pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a gente tem 45 dias para o reconhecimento da operação. A partir de então, podemos trabalhar de maneira combinada. Até lá a gente segue de maneira isolada, cada um fazendo sua gestão, mas tendo sua visão do negócio combinado.

G: O quanto a “nova” holding Evino mais Grand Cru deve crescer?
A: A receita estimada para 2021 é de 700 milhões de reais. Para o ano que vem objetivamos crescer, sem dúvida, mas só vamos desenhar isto depois do OK do Cade. A partir dai vamos estudar o orçamento de cada empresa individualmente, de forma independente, e uma vez que a combinemos vamos pensar como ficam orçamento e receita.

G: Em termos tangíveis, o que Evino adquiriu de Grand Cru?
A: Adquirimos 100% do capital social da Grand Cru. Em termos de colaboradores, a Grand Cru tem cerca de 320 pessoas, opera 110 lojas e o objetivo é fechar o ano com 127, entre franquias e operações próprias. As franquias, obviamente, seguem com os franqueados, mas temos a franqueadora e elas passam a fazer parte da rede Evino Grand Cru combinada. Com isso, passaremos dos 1000 a 1200 rótulos que giram por ano no catálogo itinerante da Evino para cerca de 2000, ao somarmos os da Grand Cru.

G: Como o grupo irá trabalhar agora a curadoria dos vinhos e a questão institucional? Recentemente a sommelière Jessica Marinzeck, uma espécie de frontwoman, deixou a Evino.
A: Nessa última passagem pela Evino, a Jessica estava se ocupando muito menos de portfólio de produto, estava num papel mais institucional, de comunicação. Agora o que teremos é a combinação dos dois negócios: quem vai seguir muito atuante nessa frente somos eu, o Mariano Levy, da Grand Cru, que segue como consultor, e temos o Massimo Leoncini, que é o sommelier da Grand Cru, que faz um trabalho forte de produto. E vamos seguir desenvolvendo um time para essa curadoria mas, a princípio, nada muda. Pretendemos somar os talentos. Estamos neste momento, inclusive, aqui em Champagne, fazendo algumas degustações para já começar a desenhar algumas apostas para o ano que vem.

(Foto: Jussara Martins / divulgação)