Nem todos querem ser Supertoscanos

Safra 2019 do icônico vinho italiano Sassoalloro Oro chega ao mercado brasileiro

Fotografia: Divulgação
Marcel Miwa

Marcel Miwa

O lançamento de Sassoalloro Oro 2019 foi uma prova que nem todos os vinhos e vinícolas da costa toscana se espelham no modelo Supertoscano. Além do terroir, entenda o modelo supertoscano como a mescla de Sangiovese com as uvas tintas bordalesas: Cabernet Sauvignon e Merlot, na maioria dos casos.

O Castello di Montepò, vinícola da família Biondi-Santi, produz desde 1991, na região de Scansano (parte sul da costa Toscana), o emblemático Sassoalloro, um tinto feito exclusivamente com a Sangiovese Grosso (o famoso clone BBS11, de Biondi-Santi) mas de vinhedos ainda jovens. Em 1993 a linha ganhou um degrau superior com Schidione, aí já com a clássica mescla de Cabernet Sauvignon e Merlot com a Sangiovese. Em anos excepcionais, varietais de Cabernet Sauvignon e Merlot também foram produzidos (respectivamente, Montepaone e Morione), porém a atenção parece estar cada vez mais para a Sangiovese.

Em comemoração aos 30 anos de Sassolloro, foi lançada a versão Oro a partir de um novo estilo. Do vinhedo de 50 hectares, onde a Sangiovese BBS11 ocupa cerca de 70% da superfície, Oro 2019 é resultado de uma única parcela, chamada Aia di Clemente, que possui cerca de 6 hectares.

O trabalho do enólogo-consultor Donato Lanati, com os produtores Jacopo e Tancredi Biondi-Santi, pai e filho, foi de selecionar os setores onde a Sangiovese BBS11 está plantada em solo de galestro (mescla de xisto e argila), e vinificada de forma pouco invasiva: fermentações em tanques de inox, com estágio de 14 meses em botti (tonel de carvalho da Eslavônia) e barricas francesas, com tostagem mínima.

Jacopo Biondi-Santi (ao centro) e Tancredi Biondi-Santi, à direita / Foto: divulgação

Na taça e servido ao lado do Sassoalloro tradicional, é nítido o salto de qualidade em Sassoalloro Oro 2019 (R$ 939,10, na Mistral), e a direção apontada para Montalcino. Apesar do calor associado aos vinhos da costa toscana, em Sassaolloro Oro o frescor é o protagonista, seja pelas frutas vermelhas ácidas ou pelas notas de cânfora, flores e ervas secas. A trama de taninos é exemplar e a quantidade projeta uma longa vida ao vinho que, claro, também traz as cobiçadas notas minerais e, mais importante, álcool já integrado. A expressão do vinho se aproxima muito mais da continental Montalcino que dos vizinhos “aias", como Ornellaia e Sassicaia.

Agora, o salto de qualidade com o rótulo coincide com a dedicação total da família Biondi-Santi ao Castello di Montepò, uma vez que a venda de Il Greppo e a marca de Montalcino para o grupo EPI foi concluída em 2020. Será uma mera coincidência? Nós, consumidores, agradecemos.