Vinho e amor

“A vida deseja alegria.

Para isso as escolas ensinam as artes.

É preciso educar os sentidos!”

(Rubem Alves)

 

Há alguma coisa que conecte vinho ao amor? Com certeza, há muitas e uma delas está no desenvolvimento de sentidos. A arte de degustar nos exige beber devagar prestando atenção em nossos sentidos.  Pode-se dizer que ligação mais sedutora é impossível, pois tanto o vinho quanto a prática do amor devem ser degustadas sem pressa, aproveitando as preliminares, os cheiros, o tilintar da taça e o aflorar das emoções. Quem tem sede bebe água. Quem quer prazer, degusta vinho e pratica o verdadeiro amor. Bebe devagar e presta atenção nos detalhes, usando todos os estímulos possíveis, como visão, olfato, paladar, audição e tato. Ouve o estampido da rolha, os ruídos do amor, desperta as fantasias.

 

Um grupo de investigadores sueco algum tempo mostrou que a prática da degustação desenvolve os sentidos. A análise dos resultados evidenciou uma forte atividade na amídala, uma zona do cérebro que relaciona à sensação do prazer. E deixemos de lado um pouco a ciência, pois o prazer é inefável, algo divino e transcendental. Manoel Barros, famoso poeta brasileiro foi muito afortunado quando afirmou que “a ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá”. Parafraseando-o diria que não há possibilidade de quantificar o quanto um grande vinho ou um grande amor é capaz de nos tocar, particularmente, o nosso coração.  

 

Vinho e libido feminina

 

Não existem até o momento evidências científicas sólidas sobre o efeito positivo do vinho (e qualquer bebida alcoólica) sobre a libido feminina. Pode-se até pensar que não haverá nunca já que a sexualidade humana, em particular, a feminina, é muito diversa e complexa. É verdade, porém, que a ideia reinante é a de que o álcool em pequenas doses libera o desejo sexual (libido), principalmente das mulheres, talvez por quebra alguns freios sociais impostos a elas em seu processo educativo. Dentre as bebidas alcoólicas as maiores referências a este respeito, sempre foram com a do deus Baco, o vinho.

 

Há um relato de investigadores italianos que avaliaram a função sexual feminina, em uma amostra populacional pequena e divididas em três grupos: mulheres abstêmias, mulheres que tomavam de uma a duas taças de vinho ao dia e mulheres que tomavam muito vinho, 3 ou mais taças diariamente. As mulheres que tomavam de uma a duas taças ao dia teriam uma melhor função sexual -avaliada segundo escalas- que as de os outros dois grupos. Este estudo teve muita repercussão mundial na mídia popular, porém sem respaldo na científica, pois o estudo apresentava muitas falhas.

Publo Ovidio Naso, poeta romano (43 a.C. – 18 d.C.) conhecido como Ovidio nos países de língua portuguesa, e considerado o “mestre do amor”, recomendava duas dicas para seduzir uma mulher usando a bebida de Baco: escrever com vinho algumas palavras lisonjeiras na mesa ou beber da mesma taça por onde ela bebeu. Que tal tentar fazer isso neste dia tão especial – dia dos namorados! Estando confinados em mesma casa, ou já imunizados do COVID-19, não haveria problema de compartilhar um pouco de vinho na mesma taça.

 

Estilo de vinho e amor

 

Qual seria o estilo de vinho que tem mais proximidade ao amor? Com certeza o espumante é aquele mais relacionado ao erotismo, ao amor. É charmoso, elegante e traz o toque de sedução. Em outros tempos já foi o vinho do Porto e é também uma ótima dica para o dia dos namorados, ainda mais harmonizado com outra paixão das mulheres, o chocolate. Caso queira saber mais detalhes, por ex. de combinação ou harmonização de quais Portos e chocolates, não deixe de pedir ajuda à revista Gula (link).

 

Qual a quantidade poderia ser considerada saudável? Acredito que a maioria busca no vinho prazer e alegria e sobre isso é interessante relatar a colocação de um amigo sexólogo argentino, Adrián Sapetti: “Continuemos desfrutando o vinho, com cuidado em certas doenças, de forma moderada em nossas horas tranquilas; com generosidade nos momentos propícios e dionisíacos”.

 

A resposta da quantidade ideal de vinho é difícil quando se pretende ligar essa bebida ao prazer, alegria, compartilhamento, porém, vou lembra-los que é sempre bom localizar o limite de cada um (ou do par) e não o ultrapassar, senão a noite pode terminar junto com o vinho. Como toda bebida alcoólica, o vinho deve ser ingerido com moderação, ao contrário da revista Gula, que deve ser “saboreada” sem comedimento. E como médico, quando me perguntam sobre a relação da bebida de Baco com a saúde, particularmente sobre o coração, respondo com as sábias palavras do saudoso produtor de vinhos nacional, Laurindo Brandelli, quando dizia que o “amor pelo vinho faz bem ao coração”.

 

O vinho e o amor podem viver na mais perfeita comunhão, sob as bênçãos de Baco, divindade grega do vinho (ou de Dionísio para os romanos) e de Eros, o deus do amor. Aproveite o “dia dos namorados” e façam juntos, sob as graças desses deuses, uma gostosa e inesquecível viagem sensorial, cujo foco é o prazer, o amor, a alegria e a felicidade. Brinde e celebre todas as sensações despertadas pelos seus sentidos. A visão será abrilhantada pela diversidade de cores do vinho, o olfato pode passear por uma infinidade de inesquecíveis aromas. Ao ser apresentado a boca, o tato nos delicia com uma surpreendente textura e o paladar pode predizer quais as iguarias harmonizam melhor. E a audição é aguçada pelo tilintar das taças, e antes mesmo, pelo estampido da rolha. Tudo isso anuncia a chegada de um momento inusitado, singular.

 

Em minhas palestras sobre vinho, sempre digo que ele é lúdico, é prazer, assim como o amor. E ainda reforço que apenas as pessoas que amam a vida são capazes de atribuir valor ao prazer. Por outro lado, a pessoa aberta e capaz de viver o prazer faz bem a si e aos outros. Daí um provérbio português: “quem tem bons vinhos, tem bons amigos” ou poderia finalizar com o grande Fernando Pessoa - “Boa é a vida, mas melhor é o vinho”, ainda mais quando acompanhado de amor.

 

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