Verão na Cotê D’Azur. Tristezas e alegrias gastronômicas

Para quem gosta do mundo encantado da gastronomia, o verão de 2021 no sul da França, este verão pós-Covid, pero no mucho, reservou boas e más notícia

Fotografia: Divulgação
Washington Olivetto

Washington Olivetto

Vou começar pelas más: o histórico e antológico Restaurant de Bacon, localizado em Cap D’Antibes, fundado pela família Sordello em 1948, e vendido por essa mesma família em 2020 depois de mais de 70 anos de excelência, começa a desaparecer. Os compradores, donos do Le Bâoli, uma mistura de night club com restaurante, localizado em Cannes, na região de Port Canto, não têm a mínima vocação para um negócio tão requintado. Tanto é que já promoveram trágicas modificações no tradicional Bacon.

Mudaram o nome do restaurante para Maison Bacon e imprimiram esse nome num pavoroso logotipo colocado numa placa extremamente vulgar na porta do estabelecimento. Dentro do Bacon, acrescentaram um lounge absolutamente desnecessário; os históricos peixes de cerâmica da decoração foram substituídos por uns objetos incompreensíveis e sem identidade; as confortáveis mesas e cadeiras deram lugar a outras modernosas e desconfortáveis; pioraram a iluminação e, o que é pior de tudo, trocaram a brigada e o chef de cozinha. O serviço e a comida ficaram péssimos.

Eu, que frequentava o Bacon desde o final dos anos 1970, estive lá agora num jantar verdadeiramente catastrófico. Jurei que não volto mais. Claro que essa minha opinião não é um grande problema para os novos proprietários do Bacon, mas a opinião dos dois competentes concierges do Hotel Du Cap, que passaram anos recomendando o Bacon para os seus hóspedes e agora não recomendam mais, é um problema. Um problema e dos grandes. Acho que em mais dois verões esse Maison Bacon não existirá mais.

Outra má notícia: a família proprietária do Chez Tetou – icônico restaurante aberto em 1918 e frequentado por gente como Aristóteles Onassis, Pablo Picasso e Mick Jagger – confirmou, via o jornal Nice-Matin, que não tem mais nenhum interesse em reabrir a casa, apesar dos inúmeros apelos e ofertas. O Tetou, que teve por mais de um século a bouillabaisse mais famosa do planeta, fechou em 2018, quando o prefeito local decretou que todos os restaurantes na praia deviam ser de alvenaria e não de madeira. A família proprietária do Tetou, todo construído originalmente de madeira, não cedeu às pressões do político e preferiu fechar as portas, apesar do incrível sucesso do restaurante, no qual as senhoras da família proprietária serviram durante décadas os clientes, usando joias tão boas e valiosas quanto as das frequentadoras.

Agora, as boas novas: uma casa tradicional em Golfe-Juan, pertinho de onde era o velho Tetou, é o Le Bistrot du Port, do chef Mathieu Allinei, que tem uma performance cada vez melhor. Virou, inclusive, o queridinho dos concierges dos melhores hotéis da região, agora que não há mais o Tetou e o Bacon para recomendar.

E a grande novidade deste verão, que promete ficar por muitos e muitos anos entre o top dos tops da região, é o La Fourmigue, também em Golfe-Juan. Curiosamente, o dono do La Fourmigue trabalhou por mais de 20 anos no Tetou. Ele e sua equipe servem entradas com forte personalidade, reinventaram algumas sopas e são especialistas em todos os peixes da região. Perguntei a ele por que, com toda essa experiência, não fazia a bouillabaisse e ele me respondeu que queria evitar comparações com o histórico e imbatível Tetou.

Acho que ele está certo: se não me falha a memória, é como dizia uma famosa campanha de publicidade do fim dos anos 1980: “o primeiro a gente nunca esquece”.