A dinastia Catena

Fotografia: Lucas Llanos
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

Da mesma forma que fizeram muitos italianos na época, Nicola Catena fugiu da escassez e da carestia que assolavam a Itália em fins do século 19 e veio para o Novo Mundo em busca de um próprio Shangri Lá. Otimista incurável, ao respirar o fresco e seco ar de Mendoza julgou enfim ter encontrado a Terra Prometida. E em 1902, o jovem imigrante italiano plantou ali sua primeira vinha de Malbec, uva que naquela altura era conhecida como parte menos protagonista nos cortes bordaleses. No entanto, algo em Nicola o dizia que aquela variedade poderia atingir um patamar até então desconhecido naquela paisagem inóspita. Tinha razão. 

 

Os sonhos de Nicola tiveram continuidade pelas mãos do filho primogênito Domingo. Coube a ele conduzir a bodega após a saída de cena de Nicola. E nesta transição geracional, entre as certezas que mantiveram-se vivas, estava a convicção de que “a Malbec naquelas paragens tinha tudo para produzir vinhos tão elegantes e complexos quanto os grandes crus de Bordeaux”. 

 

País pródigo em crises financeiras, reviravoltas e convulsões políticas, os argentinos viam-se em (mais uma) delicada crise financeira em meados dos anos 1960. Foi neste contexto que Nicolás Catena Zapata, filho de Domingo Catena e Angelica Zapata, entrou  de vez em cena na vinícola da família. Recém graduado em economia,  Nicolás foi consultado pelo pai sobre o dilema pelo qual passava Domingo: naquele ano, colher as uvas custaria mais do que deixá-las apodrecer nas vinhas. Aos 22 anos, ainda gozando da impertinência juvenil, Nicolás sugeriu ao pai que não apanhasse os frutos. Mesmo assim, como se fora um tango, carregando uma tristeza que só os argentinos são capazes de ostentar, Domingo contrariou o filho e colheu as uvas na mesma. “Nunca mais esqueci da cara triste do meu pai naquele ano”, lembra. 

 

Quando chegou a sua vez de assumir o legado familiar, após a morte do pai em 1985, Nicolás Catena Zapata optou, num primeiro momento, a apostar no mercado interno. Mais uma vez, o país estava em crise. Era época da ditadura militar. E, para piorar, o governo havia acabado de invadir as Ilhas Malvinas e iniciado uma guerra contra o Reino Unido. É neste momento altamente desfavorável que começava a se desenhar a trajetória de um dos mais importantes senhores do vinho da Argentina, da América do Sul e do Mundo. 

 

 

CATENA ZAPATA

Ainda nos anos 1980, Nicolás recebeu um convite daqueles que não se pode recusar: foi chamado para dar aulas de economia como professor convidado na Universidade de Berkeley, na Califórnia, nos Estados Unidos. Por coincidência, eram justamente os californianos os únicos que ousaram desafiar de forma incisiva o poderio francês no mundo dos vinhos. O Julgamento de Paris trouxe luz aos produtores da região, que fervilhava de ideias e possibilidades no começo dos anos 1980. Nicolás, com a esposa Elena e a filha recém-nascida Adriana, gostava de passar os finais de semana em Napa Valley, onde tudo acontecia no mundo do vinho. E esta proximidade com a região e com todas as revoluções que por lá sucediam, fez com que o produtor voltasse para a Argentina com uma visão totalmente influenciada pelos ares californianos. 

 

Era um tempo em que os argentinos vendiam vinhos a granel. Não havia uma indústria exportadora. Nem tampouco rótulos de qualidade capaz de rivalizar com os melhores europeus ou norte-americanos. Neste contexto, Nicolás decidiu vender a bodega de vinhos da mesa da família em concentrar os esforços em produzir vinhos de qualidade elevada. Decidiu transpor fronteiras, levando a viticultura a altitudes então inexploradas, ao plantar vinhas em Gualtallary Alto, a 1500 metros acima do nível do mar. Desfiando amigos, agrônomos e enólogos, foi abrindo horizontes e espalhando as convicções que tinha de que, sim, era possível fazer vinhos de qualidade nos solos pobres na altitude andina. E começou, com sucesso, a exportar seus vinhos. E a mudar de uma vez por todas a história do vinho argentino.

 

Mas ainda faltava algo. Restava provar que a intuição do avô e a certeza do pai em apostar na Malbec como casta diferenciadora estava correta. O próprio Nicolás, encantado pelos Cabernets e Chardonnays californianos, não tinha a mesma convicção dos antepassados. Mas a morte do pai, em 1985, fez com quem Nicolás encarasse como uma missão desenvolver todo o potencial da Malbec na região.  E depois de longos anos de trabalho intenso no vinhedo Angelica, cujas vinhas somavam 85 anos, finalmente deu-se por satisfeito (e convencido), e lançou o primeiro Catena Malbec, da safra 1994. O sucesso do vinho, respaldado por críticas positivas de todos os lados, inclusive do influente Robert Parker, mostrou que quase 100 anos antes, um jovem imigrante italiano, otimista que só ele, estava coberto de razão quando ousou plantar uma vinha de Malbec em plena Terra Prometida. 

 

A partir de então, fez-se a história. Conheça-a melhor ainda nas palavras do próprio Nicolás Catena Zapata: 

 

GULA: O senhor consegue imaginar como seria a sua vida se o seu avô não tivesse plantado um vinhedo de Malbec em 1902?

 

NICOLAS CATENA ZAPATA: Nasci no vinhedo que meu avô italiano plantou em 1902. Cresci lá, fiz amigos, frequentei a escola primária próxima. Vivi um contato permanente com o trabalho nas vinhas, vi-as ficarem verdes na Primavera, vindimei as uvas no Verão. Sem dúvida, o campo definiu minhas preferências e meus objetivos de vida. Se me pedissem para me descrever em uma única palavra, eu diria que sou: “um camponês”. Confesso que não consigo imaginar como teria sido a minha vida sem este intenso contato directo com as vinhas, com as incertezas de lidar com acidentes climáticos, de depender dramaticamente da água da montanha em solos desérticos, de esperar a cada ano um sabor melhor nas uvas para obter vinhos de maior qualidade. O meu avô, a sua vinha, o meu pai vinicultor, acho que me definiram desde que nasci.

 

 

GULA: Quando o senhor decidiu que seria definitivamente um produtor de vinho e não um economista?

 

NCZ: Durante os meus estudos secundários descobri que tinha uma grande facilidade para a matemática. Coincidentemente, dois dos meus professores de matemática ensinavam na universidade no departamento de economia e eu estudei lá. Após a minha formatura, surgiu a oportunidade de fazer pós-graduação nos EUA e fui aceito na Universidade de Chicago, mas nesse momento descobri que meu pai, por quem tinha muito carinho, precisava e esperava minha ajuda para administrar sua empresa de vinho. Eu tinha 22 anos e assumi o negócio da família, sua adega e seus vinhedos. Tornei-me um “empreendedor camponês”.

 

 

GULA: O senhor está diretamente ligado a três revoluções na história do vinho argentino. O que você poderia dizer sobre cada uma dessas etapas?

 

NCZ: Em 1982, fui convidado por um centro de pesquisa do departamento de economia agrícola da Universidade da Califórnia em Berkeley e logo descobri que ficava muito perto de Napa Valley. Lá fomos, minha esposa e eu, como turistas, visitar a vinícola Robert Mondavi. Faltam-me palavras para descrever a minha surpresa quando provei os seus vinhos. Eles eram muito diferentes dos nossos e me pareciam superiores aos meus. Fiquei imediatamente interessado em estudar cuidadosamente tudo o que estava acontecendo em Napa. Eles estavam vivendo uma revolução na qualidade tentando competir e vencer os vinhos franceses, considerados naqueles anos os melhores do mundo. Eu me perguntei por que não tentar o mesmo no meu país. Voltei e iniciei uma mudança revolucionária na minha província, em Mendoza, plantando novos vinhedos, introduzindo novas tecnologias na vinícola, modificando o sistema de cultivo. Abandonei o estilo de então, que era chamado de “estilo italiano antigo” e o substituí pelo que gosto de chamar de “estilo californiano-francês”. A principal diferença nos vinhos era um sabor oxidado de xerez no estilo antigo versus um sabor dominado por frutas e carvalho na Califórnia. Este novo estilo determinou um crescimento vertiginoso nas exportações e logo foi adotado pela maioria das vinícolas argentinas.

 

No início dos anos 90, enquanto jantava com um famoso enólogo francês, ele me explicou que a diferença entre um vinho Bordeaux e um Languedoc era a temperatura do lugar e que as regiões vitícolas clássicas de Mendoza se assemelhavam ao Languedoc. Disse a mim mesmo: tenho que plantar vinhedos em Mendoza em lugares mais frios. Resolvi procurar temperaturas mais baixas subindo a montanha, subindo os Andes. Encontrei um lugar a 1.500 metros de altitude e ali plantei Chardonnay, Malbec e Cabernet Sauvignon. Meus colegas viticultores achavam que eu estava louco. Ninguém jamais havia plantado tão alto. Disseram que as uvas não amadureceriam. Foi um sucesso. Não só amadureceram, mas a intensidade de sabor, a qualidade destes vinhos superou tudo o que se conhecia até à data. A “revolução do vinho de altitude” aconteceu e os preços das terras altas cresceram para se tornarem hoje os mais valorizados do país.

 

Quando me inspirei em Napa Valley na década de 1980, me dediquei às variedades Cabernet Sauvignon e Chardonnay, que eram as mais apreciadas internacionalmente. Mas em Mendoza, a variedade tinta de origem francesa mais plantada foi a Malbec. Meu pai era um admirador fanático do Malbec e costumava me dizer que ele superava as outras variedades tintas. Talvez para satisfazer meu pai, decidi aplicar ao Malbec as tecnologias da vinha e da adega que havia aprendido em Napa. A primeira safra com esse novo estilo foi em 1994 e minha surpresa foi incrível. Um tinto com uma fruta diferente, extremamente atrativo e com uma suavidade tátil excepcional. Exportamos a um preço 35% superior ao nosso Cabernet Sauvignon. No mercado norte-americano foi realmente recebido com fúria e rapidamente se tornou moda. Acredito que uma classificação excepcional para o nosso Catena Malbec 1995 do famoso crítico Robert Parker foi o que consagrou o futuro promissor do que ficou conhecido internacionalmente: “Argentine Malbec”.

 

 

 

BODEGA LUCA

Laura Catena é daquelas pessoas que conseguem fazer o dia render muito mais do que as 24 horas de praxe. Ativa, altiva e inquieta, concilia muitas facetas em uma única silhueta. É médica, viticultora, pesquisadora, enóloga, escritora, administradora, mãe, filha e sabe-se lá mais o que precisar ser. E faz tudo com talento, paixão e com uma intensidade vibrante que contagia quem está perto. 

 

Em fevereiro de 1998, Laura já fazia tudo isso: era médica, viticultora e enóloga e dividia o tempo entre San Francisco, onde exercia medicina, e Mendoza, onde dava vazão ao lado agricultora. Junto a um viticultor com quem trabalhava, foi dar um salto a umas vinhas bem antigas de Malbec perdidas em despretensiosos vinhedos familiares. O dono de uma destas vinhas, um ancião com mais de 100 anos, ofereceu um mate aos visitantes e depois foram passear pelas tais vinhas. De volta a casa, o centenário anfitrião fez com que Laura provasse o Malbec feito por ele mesmo, em casa, resultante das vinhas que haviam acabado de ver. A combinação Mate e Malbec deu um clic na cabeça de Laura, que, naquele instante percebeu que aquelas vinhas carregavam um verdadeiro tesouro que era desperdiçado na produção de vinhos a granel. Aquilo não poderia ficar assim, e Laura decidiu ali mesmo começar um projeto para fazer um vinho de qualidade honrando estas vinhas tão velhas. Nascia ali a Bodega Luca. 

 

No começo a coisa não andou tão bem. Afinal, confiança não é algo que se ganhe de primeira, e os vinhateiros ainda temiam sacrificar a produtividade em nome da qualidade, temendo perdas financeiras. Mas Laura teve paciência. Ouviu histórias familiares, criou laços, compartilhou taças e convenceu os produtores que sim, era possível fazer grandes vinhos daquelas uvas. E hoje, quase 25 anos depois do Mate revelador, Laura construiu o que chama de uma família de produtores unidos pela mesma bodega: a Luca

 

 

GULA: Qual é o principal desafio que um produtor de vinhos tem em levar o sobrenome Catena?

 

LAURA CATENA: Catena significa corrente em italiano. É a cadeia de montanhas, é a cadeia que nos une à natureza e às antigas tradições do vinho. O nome nos une com a vinha, Mendoza e a cultura do vinho. O nome nos impulsiona a inovar, a promover nossa região, a fazer vinhos argentinos que podem estar entre os melhores do mundo.

 

 

GULA: Você poderia nos contar sobre o trabalho que está fazendo no Catena Wine Institute e o livro Gold in the Vineyards?

 

LC: A visão do Instituto Catena é “usar a ciência para preservar a natureza e a cultura do vinho em Mendoza”. Para isso, devemos entender as mudanças climáticas, o terroir de cada região, cada vinhedo e cada parcela; devemos fazer vinhos que possam envelhecer como os melhores de Bordeaux e Borgonha. Isso precisa de muita pesquisa, muita tentativa e erro, muita colaboração com especialistas de todo o mundo, da Universidade da Borgonha à UC Davis, na Califórnia. O meu bisavô plantou as suas primeiras vinhas em 1902 e hoje o nosso objetivo é que a nossa região produza grandes vinhos por mais 200 anos.

 

 

GULA: Como concilia o seu trabalho na Catena Zapata com o pequeno projeto pessoal que desenvolveu, Luca Wines?

 

LC: Considero que nascer em uma família de vinhos de Mendoza é um grande privilégio. Pude exercer a medicina durante 25 anos ao mesmo tempo que era viticultora e enóloga. Os vinhos Luca são um projeto dedicado às vinhas velhas de Mendoza. Vai de mãos dadas com o que fazemos na Catena. Meu bisavô Nicola Catena costumava dizer que Mendoza era a terra prometida do vinho. Tinha razão. O clima de montanha frio e ensolarado, os solos rochosos e calcários, a dedicação do povo mendocino, fazem de nossa região serrana um paraíso para a viticultura e o vinho.

 

 

 

ERNESTO CATENA VINEYARDS

O tempo não é uma medida

Um ano não conta, dez anos não representam nada

Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir.

O verão há de vir.

Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade.

Rainer Maria Rilke (Cartas a um jovem poeta - 1929)

 

 

Ernesto Catena é um observador atento. Tem no ato de contemplar um dos maiores compromissos que assume. Não por acaso, consegue enxergar a beleza das coisas em detalhes que para olhos menos sensíveis passaria batida. Inspirado pela virada do milênio e todas as possibilidades que a data permite, em 2000 Ernesto resolve transformar viticultura em arte, literalmente falando. E nasce a Ernesto Catena Vineyards. 

 

A filosofia de respeito às tradições locais e de valorização do ecossistema (traduzida na agricultura orgânica e biodinâmica) permeia o que Ernesto chama de “O Caminho do Artista”. Com a mente em constante ebulição, como costuma suceder com as pessoas bem dotadas de alma artística, Ernesto acumula vinícolas com conceitos semelhantes, mas sutilmente distintos. 

 

No Domaine Alma Negra, Ernesto sugere que as sensações pairem sobre as certezas, e nem informa as uvas usadas nos blends secretos ornados por ilustrações misteriosas. Na Tikal Natural Vineyars, Ernesto exercita o ato de amar. São vinhos que primam pela leveza, precisão e esmero. 

 

A Finca de los Padrillos é uma homenagem de Ernesto à vida campestre, inspirada pela relação do produtor com os cavalos. Padrillos é a palavra em espanhol para “garanhão”. Na Ánimal Organic, Ernesto propõe produzir vinhos da forma mais natural possível, sem máscaras, maquiagens ou subterfúgios, com todas as perfeitas imperfeições que a Natureza oferece. E por fim, na Siesta en el Tahuan, Ernesto homenageia o tempo, garantindo que “a força se esconde nas profundezas da terra, e no interior das coisas”. 

 

 

 

 

GULA: Qual é o principal desafio para um produtor de vinho em ostentar o sobrenome Catena?

 

ERNESTO CATENA: Catena Zapata é nosso sobrenome, pois nosso avô italiano Catena se casou com nossa avó crioula Zapata. Tudo o que aconteceu a partir de então é a história da nossa família, cheia de desafios como os que existem em todas as famílias: como ficar juntos, como respeitar as diferenças, como ajudar cada membro a expressar o melhor de si. Não é uma coisa fácil, mas é justamente através dessas dificuldades que o espírito se desenvolve. Crescer, algo difícil e ao mesmo tempo bonito.

 

 

GULA: Como você define seu estilo pessoal na produção de vinho?

 

EC: Recentemente, estou me inspirando em uma antiga filosofia japonesa, chamada wabi-sabi. Trata-se de fazer as coisas em harmonia com a natureza, com humildade, buscando – mais do que a perfeição – uma experiência autêntica. Meu estilo está sempre mais longe do perfeito (que é um valor mais aplicável à indústria e à ciência), e está mais próximo do único, irrepetível, etéreo e indefinível. Quer dizer, artisticamente.

 

 

GULA: Muitas pessoas o tratam como o poeta do vinho. Por falar em poesia, que poetas inspiram o viticultor Ernesto Catena?

 

EC: A poesia para mim é um sentimento, às vezes inspirado pela leitura ou criação de um poema, mas ainda mais por paisagens, espaços ou objetos que encontro pelo caminho. Vejo poesia atravessando uma ponte sobre um riacho na primavera. Sinto poesia a partilhar um vinho com os amigos, uma refeição com a minha família. Poesia para mim é a compreensão de por que estamos neste mundo. Cada um de nós é um poeta de sua própria vida. Viver é uma poesia. Perceber a Natureza através dos sentidos é um privilégio que nos foi dado e que devemos aproveitar. A capacidade de sentir, que maravilhoso. Tudo pode ser poesia. Depende de cada um. Para falar de um poeta conhecido que me inspira, poderia citar um amigo que é pintor, mas suas pinturas são poesia. Seu nome é Ariel Mlynarzewicz, ele pintou o rótulo do nosso vinho Tikal.

 

 

 

EL ENEMIGO

 

Adriana Catena é daquelas pessoas que sabe como manter a atenção das pessoas. Culta, articulada, simpática que só ela, consegue iluminar um jantar por horas a fio. Historiadora de formação, de esquerda com convicção, discorre com enorme fluidez por temas que passam por música, artes plásticas, esportes, história da indústria têxtil, exploração dos mais pobres e, claro, vinhos. Vivendo entre Londres e Mendoza, com esporádicas escalas em Florianópolis, a filha mais nova de Nicolás Catena criou, com o enólogo Alejandro Vigil, enólogo-chefe da Catena Zapata desde 2002, o projeto El Enemigo. 

 

A dupla produz vinhos em quatro diferentes terroirs mendocinos: Gualtallary, El Cepillo, Chacayes e Agrelo. Os vinhos têm um estilo que combina musculatura com tensão e simbolizam bem a simbiose entre a historiadora com ares revolucionários e o enólogo-agricultor iconoclasta e genial com jeito de enfant-terrible. 

 

 

DINASTIA CATENA: OS VINHOS

 

 

Notas de Prova: Alexandre Lalas e Marel Miwa

 

 

Gula Recomenda

94

El Enemigo Sémillon 2017

Mendoza/ Branco

Estagiado em barricas como véu de flor. Primeira safra produzida deste rótulo. Sémillon de vinhedo em Agrelo, Luján de Cuyo. Nariz com flores brancas, frutas brancas de caroço (pera, maçã verde, jambo e nectarina), cítricos e pão tostado. Na boca tem delicada untuosidade, boa mescla de acidez e salinidade. A acidez é crescente e se percebe mais no fim de boca. Álcool bem casado, aromas contidos no início, típico da Sémillon, que é mais conhecida pela textura que pela exuberância dos aromas.

R$ 251,50

 

 

91

Luca Chardonnay G Lot 2019

Mendoza/ Branco

Vinhedo da família Catena em Gualtallary. Fermenta e estagia em barricas francesas. Estilo barricado e bem feito. Aromas de marzipã, tarte tatin (massa amanteigada e maçã caramelizada), nozes, avelãs. Destaque para a integração do álcool que mal se nota, apesar do conjunto potente. Amplo, com untuosidade bem equilibrada pelo frescor, toque de talco e final limpo e salivante. 

R$ 320,03

 

 

Gula Recomenda

97

Catena Adrianna VinEYARD Chardonnay White Stones 2019

Mendoza/ Branco

Nariz contido, repleto de referências minerais (giz e talco), com buquê garni, camomila e amêndoa tostada. Boca com grande complexidade, umami, salgado e ácido, com frutas brancas frescas (pera e lima) e massa de pão fermentada. Conjunto firme, mineral e ácido, um marco para o Chardonnay da Argentina. Primeira safra em 2009. Vinho para guardar. 

R$ 966,73 (safra 2018)

 

 

91

Alma Negra Orange 2019

Mendoza/ Branco

Variedades não reveladas. Estagiado por nove meses em contato com as cascas em barricas de carvalho. A cor fica entre salmão e laranja claro. Ataque com notas florais que lembram a Gewürztraminer (rosa e lichia) e frutas amarelas (carambola), com boa intensidade. Conjunto untuoso, com toques abaunilhados, taninos delicados e acidez vigorosa. Intensidade aromática se mantém até o final e especiarias da madeira também se notam mais no final. 

R$ 549,98

 

 

90

On The Road Pinot Noir from Patagonia 2018

Mendoza/ Tinto

Sem medo ostentar o estilo do novomundista da Pinot Noir e o faz com ótima qualidade. Floral e frutas vermelhas maduras (cereja e framboesa) no nariz, com toque de ervas frescas e evolução para alcaçuz. Álcool bem integrado e boa acidez reforçam a sensação de delicadeza. Sem excesso de extração. Tanino muito fino e conjunto com boa fluidez. Foco na fruta, com precisão e sem excessos. Final com leve salino.

R$ 302,01

 

 

89

El Enemigo Bonarda 2018

Mendoza/ Tinto 

Nenhuma rusticidade normalmente associada à variedade. Notas de groselha e cereja, com o típico terroso. Taninos compactos e muito finos, com acidez comportada. No final toque de licor de frutas negras e textura sedutora dos taninos. Suculento, guloso. 

R$ 264,76

 

 

90

Catena Alta Cabernet Sauvignon 2017

Mendoza/ Tinto 

Um clássico, sem grandes ousadias mas apresenta a feição da Cabernet Sauvignon colhida no ponto e com grande capacidade de evoluir na garrafa. Frutas vermelhas e negras maduras (cereja e licor de cassis), grafite, madeira muito bem integrada reforçando taninos muito bem polidos e amalgamados, na mesma intensidade da acidez. Especiarias da madeira como pano de fundo e aportando complexidade (canela, toffee e defumado). Exemplar didático de uma Cabernet Sauvignon de alta gama.

R$ 417,32

 

 

91

Tikal Jubilo 2015

Mendoza/ Tinto 

50/50 Cabernet Sauvignon e Malbec. Tinto exuberante, intenso mas com firmeza suficiente para não se tornar cansativo. Frutas negras maduras (ameixa e cereja), leve cânfora, hortelã, pão tostado, tabaco e almíscar. Potente, untuoso, na boca deve encantar aos que gostam de Amarone, pelas frutas negras em licor, infusão de ervas e toques de cacau. Taninos muito finos e ainda firmes.

R$ 472,59

 

 

92

Luca Beso de Dante 2017

Mendoza/ Tinto 

50% Cabernet Sauvignon, 40% Malbec e 10% Cabernet Franc. Conjunto sem arestas e novamente didático sobre as variedades. Frutas negras da Malbec, frutas vermelhas e taninos da Cabernet Sauvignon e especiarias da Cabernet Franc (páprica e canela). Concentração compatível com a proposta (media/alta gama, novo mundo) com bom frescor de contraponto, especiaras doces da madeira no segundo plano e já bem integrado. Amplo.

R$ 386,36

 

 

93

Gran Enemigo Single Vineyard Gualtallary 2014

Mendoza/ Tinto 

Surpreende pela jovialidade do conjunto, não aparenta os oito anos de vida. Concentrado, com frutas negras maduras, violeta, tinta nanquim, grafite e cravo. Boca concentrada com ótima fluidez, álcool mal se nota e acidez aporta frescor desde o ataque na boca. Taninos exemplares, em grande quantidade e polimento impecável. Final aparecem especiarias da madeira (baunilha, pimenta preta e chocolate). Um vinho cuja chave é a precisão. 

R$ 801,47

 

 

Gula Recomenda

94

Nico by Luca Malbec 2017

Mendoza/ Tinto 

Vinhas velhas de Malbec (80 anos) em La Consulta (Uco). Dentro o estilo dos vinhos da família, vinho sem arestas. Combina intensidade, precisão e fluidez. Aromas de frutas negras (cereja e ameixa preta) com toque de violeta, grafite e talco. Aromas seguem e limpos e intensos na boca, com ótima fluidez, sem excesso, taninos muito finos e acetinados, com firmeza da textura calcária. Mesmo com toda potência o álcool não oferece nenhum calor demasiado e o frescor joga no primeiro plano. Tosta discreta final e integrada.  

R$ 1215,46 (safra 2015)

 

 

Gula Recomenda

96

Catena Malbec Argentino 2019

Mendoza/ Tinto 

Malbec de parcelas centenárias de dois vinhedos da família: Nicasia e Angelica. Perfil dos grandes Malbecs da atualidade. Muita precisão com exuberância. Em alguns pontos lembra a Touriga Nacional. Nariz repleto de violeta, frutas negras frescas, tinta nanquim e cânfora. A madeira aparece mais pelos taninos e toques de flores e ervas secas (menos baunilha e tostados). Álcool muito bem integrado e nada agressivo, com ótimo frescor, taninos muito finos, acetinado e com textura calcária. Final com toques de grafite e ferro, sem perder a fruta e a violeta. Difícil pensar em algum elemento faltante ou em excesso para um grande Malbec.

R$ 1270,74

 

 

N.R.: Todos os vinhos da Catena Zapata, El Enemigo e Ernesto Catena Vineyards são importados para o Brasil com exclusividade pela MISTRAL. Os vinhos da Luca Wines são trazidos com exclusividade pela Vinci Vinhos.  

 

Os vinhos autênticos destes produtores vêm com um selo de autenticidade no gargalo da garrafa. Não compre falsificações e evite vinhos sem a procedência autenticada.