Campestre: um novo capítulo na vinicultura brasileira

Campeã de vendas no Brasil, a vinícola gaúcha localizada na região de Campos de Cima da Serra investe para tornar-se, com seus vinhos finos, também sucesso de crítica

Fotografia: Miguel Icassatti
Miguel Icassatti

Miguel Icassatti

Localizada às margens da BR-116, próximo de Vacaria, no norte do estado do Rio Grande do Sul e a poucos quilômetros da divisa com Santa Catarina, Campestre da Serra é uma cidadezinha de cerca de 3.000 habitantes que vive do vinho. E que vive para o vinho. Não há exagero nenhum nessa afirmação: em uma região conhecida também por ser um portentoso pólo nacional de produção de maçãs, cerca de 800 famílias locais colhem todos os anos uvas das variedades Bordô e Isabel para fornecer à Vinícola Campestre.

A história da vinícola Campestre remonta a 1968, quando a família Zanotto, de origem italiana, iniciou a produção de vinhos de mesa, que teria, entre os rótulos oferecidos pela empresa, aquele que há uma década é o vinho mais vendido no Brasil: o Pérgola.

Não é exagero dizer que a trajetória de sucesso do Pérgola, a partir do fim dos anos 1990, é obra do empresário e viticultor João Zanotto, que transformou esse vinho, vendido em garrafa de 1 litro, no best-seller que é. Zanotto investiu pesado em um processo de aprimoramento de produção combinado com o desenvolvimento de novas estratégias de promoção e de venda. O empresário contratou, por exemplo, agrônomos para orientar o trabalho na vinha feito pelos pequenos produtores e agricultores que fornecem as uvas à sua vinícola. Por outro lado, teve uma ideia tão singela quanto eficiente, para não dizer, eficaz: começou a oferecer degustação gratuita do Pérgola em supermercados. “As pessoas escolhem beber um vinho por duas razões: ou porque alguém lhes indicou ou porque elas próprias experimentaram”, ensina João Zanotto.



O resultado começou a aparecer e o Pérgola tornou-se – e mantém-se – o vinho mais vendido no Brasil, com média 40 milhões de litros engarrafados anualmente. Em 2024, foram exportadas 500 mil garrafas para países como Estados Unidos, Guiana, Suriname, África do Sul, Gana e Paraguai.

O sucesso de vendas do Pérgola encorajou João Zanotto a dar mais um passo importante na busca de tornar real um antigo sonho da família, no caso, produzir vinhos finos elaborados a partir de varietais vitis vinífera cultivadas em vinhedos pertencentes à Campestre – a Bordô e a Isabel, usadas na produção do Pérgola, são uvas híbridas ou americanas, ou seja, variedades usadas na produção de vinhos de mesa. Assim surgiram, nos anos 2000, as linhas Villa Campestre e Zanotto, produzidas na cidade de Vacaria, vizinha a Campestre da Serra, cuja sede abriga um exuberante complexo enoturístico, com visitação guiada, loja, passeios e degustação de rótulos. São 84 hectares de área, dos quais 35 hectares dedicados à produção. Ao lado da vinícola está em construção um hotel, com conclusão prevista para 2028, que confirmará o papel da Vinícola Campestre como uma das mais completas experiências enoturísticas no Brasil.


Entre os vinhos finos da Campestre, a linha Zanotto é consequência de um trabalho de pesquisa de vinhedos e de solos que levou em conta as características do terroir local, como a boa altitude (entre 900 e 1200 metros de altitude) e a amplitude térmica, com invernos longos e muito frios e verões secos, com calor durante o dia e temperaturas amenas à noite. Essas virtudes permitiram que a vinícola Campestre viesse a ser uma expoente de um novo terroir para a vinicultura brasileira – Campos de Cima da Terra – que é ideal para o plantio e o manejo de uvas europeias, como Chardonnay, Sauvignon Blanc e Moscato Giallo (entre as brancas); Malbec, Merlot, Pinot Noir, Sangiovese, Syrah e Tannat (tintas).

Na Campestre, todas as uvas utilizadas na produção dos vinhos finos provêm de vinhedos próprios, que passam por um controle rigoroso do solo e uso de tecnologia, a cargo de uma equipe de cinco agrônomos. Nas adegas, inclusive na que produz os vinhos de mesa, um time de dez enólogas e enólogos trabalham na elaboração dos vinhos, liderados por André Donatti, eleito o Enólogo do Ano pela Avaliação Nacional de Vinhos, organizada pela Associação Brasileira de Enologia, em 2024.

A safra 2020 do Sangiovese Zanotto, por exemplo, foi a única de um vinho brasileiro premiado com a medalha de ouro no Decanter World Wines Awards 2021, um dos concursos mais importantes do setor do vinho, realizado anualmente em Londres. E o que esperar da safra de 2025, recém-produzida? “Colhemos uvas de boa qualidade e em muita quantidade, diferentemente do ano passado”, diz o enólogo André Donatti. “E uma uva saudável é responsável por mais da metade do sucesso de um vinho”. O futuro dirá.

Alguns vinhos degustados:

Espumante Brut Zanotto
Elaborado com Chardonnay e pelo método charmat (com segunda fermentação realizada em tanques de aço inoxidável), é uma agradável surpresa. Apresenta acidez moderada; dulçor equilibrado e muito frescor, com notas aromáticas de maçã.
Preço: R$ 65,90
90 pontos

Zanotto Chardonnay 2024
Com cor amarelo palha e de médio corpo, tem boa acidez, apresenta paladar e aromas frutados (maçã e melão), com toque sutil de carvalho (decorrente do estágio de um mês em barricas de carvalho de segundo uso).
Preço: R$ 69,90
88 pontos

Zanotto Malbec 2024
Sem passagem por barrica (e aqui, não faz falta), exala juventude e frescor, com aromas de frutas vermelhas escuras e em compota, algo lácteo, especiarias. Na boca, taninos macios, um leve toque petrolado e bom corpo.
Preço: R$ 79,90
90 pontos

Zanotto Merlot Reserva 2018
Com produção limitada – foram envasadas apenas 1500 garrafas –, esse vinho confirma a vocação do terroir de Campos de Cima da Serra para o cultivo da uva Merlot. Boa extração, acidez, taninos maduros e madeira bem presente (21 meses em barrica de carvalho francês), em meio ao que se espera de um Merlot: frutas vermelhas maduras e especiarias.
Preço: 139,90
89 pontos