Adriano Ramos Pinto foi o primeiro produtor de vinhos a perceber o Brasil como um mercado potencial para seus vinhos do Porto – não é à toa que, no país em que marcas transformam-se em categorias de produtos, a exemplo de Catupiry, Gilette e Band-Aid, “Adrianinho” tornou-se sinônimo de vinho do Porto ao longo de gerações.
Sua vinícola, a Ramos Pinto, foi a primeira a plantar as vinhas no sentido “ao alto”, ou seja, em fileiras verticais, o que facilita a mecanização e a produtividade durante a colheita.
Por falar em mecanização, a casa está em processo de aquisição de tratores inteligentes fabricados na Alemanha (ao custo unitário de 100.000 euros – e não são um Porsche Carrera...), ou seja, que conseguem memorizar o trajeto a ser percorrido no vinhedo e que, portanto, dispensam um condutor a partir da segunda viagem entre as vinhas.
José Ramos Pinto Rosas, pai do atual CEO da Ramos Pinto, que foi adquirida há uma década pela casa de champanhe Louis Roederer, foi o inventor dos “patamares”, terraços nos quais podem ser plantadas duas fileiras de plantas nesses terrenos por vezes hostis, e assim passou a viabilizar o acesso de tratores no vinhedo.
A Ramos Pinto foi a primeira vinícola portuguesa a fazer um vinho DOC Douro, em 1990.
De invenção em invenção, é possível dizer que o pioneirismo é um valor que a Ramos Pinto vem carregando ao longo de 145 anos de história na viticultura e que segue sob a gestão do CEO Jorge Rosas, que globalizou a marca, hoje presente em mais de 100 países. “De fato, a inovação é algo pensado por todos na equipe”, diz Rosas, cujos rótulos da Ramos Pinto e de seu ótimo projeto pessoal – Quinta da Touriga Chã – são importados para o Brasil pela Épice Vinhos.
Com 250 hectares de vinhas em quatro quintas localizadas na região do Douro – Quinta do Bom Retiro e Quinta da Urtiga, ambas no Cima Corgo; Quinta da Ervamoira e Quinta dos Bons Ares, essas no Douro Superior – a Ramos Pinto reúne um patrimônio vitivinícola bastante diverso. Na Quinta da Urtiga, por exemplo, é possível encontrar vinhas de mais de 50 anos de idade, de 63 castas diferentes, em apenas 3,4 hectares de área. Todas as vinhas foram convertidas par o cultivo biodinâmico. “É impressionante: nossas análises mostram que a parcela do solo biodinâmico é muito melhor do que outra contígua, de cultivo tradicional”, diz Jorge Rosas. “É transcendental”.
Segundo ele, atualmente uma área correspondente a 10% dos vinhedos das quatro quintas já é cultivada de modo orgânico e a meta é que todos os 250 hectares sejam convertidos até 2031 – de todo modo, a Ramos Pinto já não usa herbicida há catorze anos. Tradição e tecnologia também coexistem a serviço da produção de ícones como o Duas Quintas e os portos Tawny, a exemplo do best-seller RP 20 Anos: nos últimos dez anos a empresa investiu 14 milhões de euros na aquisição de equipamentos, na melhoria das adegas e em outras áreas da produção, e segue mantendo processos como a pisa das uvas, metade realizada por força humana, metade por robôs (nos topos de gama, apenas pisa humana).
De olho no futuro, a Ramos Pinto acaba de plantar 1000 árvores de sobreiro (planta que dá a cortiça) e instalou painéis solares na Quinta da Ervamoira, instalada em uma das regiões mais áridas de Portugal, bem como remodelou a apresentação visual dos vinhos, com novos rótulos e destaque para a confecção de um novo modelo de garrafa de vidro, mais leve, que reduz o impacto da pegada de carbono na atmosfera – afinal, são 1 milhão de garrafas envasadas a cada vindima. “Somos sustentáveis porque acreditamos e não por moda”, diz o CEO Jorge Rosas.
VINHOS:
Ramos Pinto Urtiga 2019
Vinho proveniente de uma parcela de vinhedo com idade média superior a 100 anos, (plantado, portanto, depois da filoxera), em terraços com muros de xisto de mais de 200 anos (pré-filoxéricos). São 63 castas identificadas em apenas 3,4 hectares, cultivadas em modo de produção biológico (desde 2017, usa-se método biodinâmico). Nessa segunda safra, da qual foram produzidas apenas 4324 garrafas, observa-se uma grande expressão da fruta em meio a uma complexidade aromática que remete também a terra úmida, especiarias e mineralidade. Na boca, é fresco, elegante, com taninos por amadurecer e anos de estrada para evoluir.
97 pontos
Preço: sob consulta
Ramos Pinto Quinta de Ervamoira 2021
Primeiro “single quinta” da Ramos Pinto, é feito a partir de uvas vindas de três parcelas. Após a pisa a pé, o vinho fermenta em cubas de inox e estagia em balseiros (foudres), o que faz com que a presença da madeira seja contida a um segundo plano, destacando, assim, a potência das frutas vermelhas (89% de Touriga Nacional e 11% de Touriga Franca) nos aromas. No paladar expressa muita fruta, elegância e frescor. Foram envasadas 5280 garrafas dessa safra.
93 pontos
Preço: R$ 1.540
Outros vinhos degustados:
Champanhe Louis Roederer Collection 2014: R$ 932
Ramos Pinto Duas Quintas Branco 2023: R$ 236
Ramos Pinto Duas Quintas Tinto 2022: R$ 236
Ramos Pinto Porto Adriano Reserva: R$ 182
Ramos Pinto Porto Tawny 10 Anos: R$ 584