Syrah: A versátil

Fotografia: DR
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

Uva capaz de gerar obras de arte em forma de vinhos, a Syrah está entre as variedades mais plantadas mundo afora. Capaz de adaptar-se a diferentes tipos de clima e solo, pode ser encontrada em mais de 20 países produtores de vinho, Brasil inclusive. Mas entre todos os lugares onde a Syrah marca presença, dois merecem um destaque especial: o norte do Rhône, na França, onde a uva dá vida a uma série de vinhos místicos e imortais, e a Austrália, para onde a cepa foi levada na primeira metade do século XIX, ganhou nova grafia (Shiraz) e acabou por tornar-se uma das uvas emblemáticas do país. Neste Gula Escola, conheça alguns fatos importantes a respeito desta que é uma das mais versáteis variedades tintas do mundo dos vinhos. 

 

1 – Durante muito tempo a origem da Syrah gerou diversos debates e inspirou inúmeras teorias. Teria ela sido originária da Pérsia e herdado o nome da cidade de Shiraz? Teria sido levada à França por cavaleiros retornados das Cruzadas? Seria originária do Egito e levada até a França via Siracusa, na Sicília? Em que pese o romantismo embutido em todas estas teorias, tudo indica que a Syrah seja mesmo uma uva originária do norte do Rhône e conhecida na região desde o tempo dos romanos. 

 

2 – Pesquisas desenvolvidas pela Universidade de Davis, na Califórnia, através do DNA da Syrah, sugerem que os pais da uva sejam a tinta Dureza e a branca Mondeuse Blanche, uma antiga variedade da Savóia. No entanto, uma relação direta entre a Syrah e a Mondeuse Noir ainda carecem de maiores confirmações genéticas. 

 

3 – A terra sagrada para a Syrah é o norte do Vale do Rhône. De lá saem alguns dos grandes vinhos feitos com a uva. Em Cornas, ela é a única variedade autorizada para a produção de tintos. Em Crozes-Hermitage, Hermitage e Saint-Joseph ela pode vir acompanhada de pequenas quantidades de uvas como Marsanne e Roussanne. Em Côte Rôtie, comumente vem escoltada com um pouco de Viognier.  

 

4 – No sul do Rhône (Côtes du Rhône, Côtes du Rhône Villages, Chateauneuf du Pape, Gigondas, Lirac, etc.), a Syrah é muito usada, especialmente em cortes. É autorizada (e bastante usada) nas principais denominações do Languedoc, Roussillon e Provença. Também aparece com frequência nas áreas de cultivo de Vin de Pays e nas vinhas do Sudoeste (Gaillac, Côtes du Frontonnais, etc.).

 

5 – Fora da França, o local onde a Syrah conquistou mais espaço foi na Austrália. Levada para lá por James Busby, em meados do século XIX, adaptou-se quase à perfeição, ganhou outra grafia (Shiraz) e gerou grandes vinhos, especialmente em vales como Barossa, Mc Laren e Hunter. 

 

6 – Espanha, Itália, Portugal, África do Sul, Suíça e Washington Estate, nos Estados Unidos, são outros sítios onde a Syrah entrega bons vinhos. 

 

7 – Na América do Sul, Chile e Argentina produzem vinhos de qualidade a partir da Syrah. No Brasil, bons resultados com a uva têm sido conseguidos em Minas Gerais, São Paulo e no Vale do São Francisco. 

 

8 – Os aromas e o gosto da Syrah variam muito de acordo com o lugar onde ela está plantada. Num Hermitage, por exemplo, são marcantes os aromas de pimenta preta muitas vezes ao lado de especiarias e couro. Nas terras irrigadas do Sudeste Australiano, frutas negras e chocolate amargo costumam ser mais presentes em termos olfativos. Na boca, enquanto os franceses do norte do Rhône costumam ser mais austeros e elegantes (embora potentes), os melhores australianos entregam vinhos mais untuosos e opulentos, porém equilibrados e frescos.