Adeus, Mestre

Fotografia: reprodução da internet
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

Foi-se embora um Senhor do Vinho. Um dos mais importantes jornalistas, professores, escritores e influenciadores da bebida no Brasil, Célio Alzer partiu neste triste sete de setembro. Aos 78 anos muito bem vividos, cheios de poesia, alegria, jazz e vinho, vítima de Covid-19, contraída após uma internação hospitalar causada por um infarto.

 

Pioneiro no ofício de ensinar sobre vinhos a um Brasil ainda iniciante no assunto, Célio, muitas vezes ao lado do parceiro de missão e irmão de vida Danio Braga, formou e influenciou uma enormidade de amantes da bebida Brasil afora. O jeito simples, descomplicado, lúdico, e, ao mesmo tempo, objetivo e cheio de informação e detalhes que Célio sempre defendeu marcou uma geração de críticos e jornalistas de vinho que vieram depois dele (o jornalista que, com os olhos cheios d'água, escreve estas linhas incluído).

 

Jornalista, escritor, locutor de rádio, Célio sempre foi múltiplo. O programa de jazz que apresentou na Rádio JB por anos e anos marcou época. O jeito informal e preciso com que dava palestras e aulas, forjou um estilo. O carisma, a elegância e a simplicidade com que sempre tratou a bebida dão um preciso retrato do enrome ser humano que estava por trás de tanto conhecimento.

 

Célio dedicou boa parte da vida ao vinho. Além de vários livros, lançou um jogo de tabuleiro inspirado na bebida. Felizes os que passaram noites entre amigos em tempos pré-pandemia se divertindo em torno do JOGO DO VINHO, ainda disponível em sites por aí.

 

A lacuna que deixa é imensa. O setor no Brasil, que ainda chora a partida precoce de Celso La Pastina, fica mais pobre, triste e inconformado com a morte de Célio Alzer.

 

Quando o Jornal do Brasil, onde eu escrevia semanalmente sobre vinhos, ia encerrar as atividades, em 2010, em minha última coluna perguntei a algumas pessoas do mundo do vinho qual seria a última garrafa que beberiam na hora do Adeus. Na época, Célio escolheu o Krug Clos du Mesnil 1990. "É um vinho que me levaria às alturas! E nessa hora, quanto mais perto do céu, melhor", brincou. Pois que sejas recebido aí em cima com uma vertical de Matusalens de Krug Clos du Mesnil.

 

Mereces, e muito.

 

Obrigado, Mestre.