Partiu um dos grandes. Morreu em 1º de outubro o viticultor português Francisco Olazabal, aos 87 anos. Um dos que viveram, sentiram e lutaram pelo Douro com uma entrega rara e com uma visão que atravessava gerações. Francisco ‘Vito’ Olazabal foi muito mais do que um nome incontornável do vinho português. Foi um verdadeiro senhor do Douro. E hoje, com enorme tristeza, presto-lhe a minha homenagem.
Tive o privilégio de o conhecer de perto. De conversar longamente com ele. De provar vinhos ao seu lado. De ouvir histórias extraordinárias, contadas com a inteligência tranquila e a elegância que lhe eram tão próprias. De me sentar muitas vezes à mesa da Quinta do Vale Meão, em almoços que desafiavam o tempo — como se ali, entre copos de grandes vinhos e gargalhadas cúmplices, o mundo parasse por um momento. Admirava profundamente a forma como soube manter vivo o legado da sua família, mas também a coragem de, aos 60 anos, recomeçar. A forma como reuniu vontades, juntou parcelas, e voltou a dar alma à Quinta do Vale Meão — essa jóia do Douro Superior que se tornou símbolo de excelência, de resiliência e de continuidade. Tudo isso se deve a ele. Ao seu carácter. À sua visão. Ao amor que tinha pelas vinhas e pela história que carregava.
Era um homem de princípios, de convicções fortes e de uma cultura clássica que se espelhava nos seus vinhos. Mas também era generoso, disponível, atento ao que o rodeava. Um verdadeiro mestre silencioso, que marcou o vinho português sem nunca procurar protagonismos, mas deixando um legado imenso. À família, à Luísa, ao Jaime, ao Xito, à Senhora D. Zinha, deixo um abraço apertado e sentido. Perdem um pai e um marido. Nós perdemos uma referência. O Douro perdeu uma das suas figuras maiores. Foi também uma honra pessoal — e um dos momentos mais marcantes do meu percurso — ter-lhe entregue, em 2017, o Prémio de Personalidade do Ano da Revista de Vinhos. Nesse gesto simbólico, prestámos homenagem a uma vida inteira dedicada ao Douro.
Hoje, reafirmo com emoção: foi mais do que merecido. Foi justo. Foi eterno.
Obrigado por tudo, Vito.
Partilhar