Descubra Ponte de Lima

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

É sempre um prazer voltar a Ponte de Lima. A vila mostra uma surpreendente capacidade de rejuvenescimento, quase como que uma força vital que emana do rio e do granito, do verde da paisagem, do sabor da gastronomia e, claro… da tipicidade dos seus vinhos. Vamos (re)descobrir Ponte de Lima. 

 

Ponte de Lima teve o primeiro foral concedido em 1125 por D. Teresa, a mãe de D. Afonso Henriques, antes ainda do estabelecimento da nacionalidade, em 1143. Nestes nove séculos de história, rica e cheia de significado, Ponte de Lima foi construindo um vasto e valioso patrimônio, seja do ponto de vista histórico, cultural, mas também patrimonial, patente em construções como o pelourinho, considerado monumento nacional; a igreja matriz, dos séculos XIV a XVI; a Capela do Anjo da Guarda, de inspiração gótica; entre tantos, tantos outros – sem esquecer, claro, a ponte romana sobre o rio Lima, ostentando orgulhosamente os seus quinze arcos grandes e doze pequenos e que é, verdadeiramente, o centro e o coração da vila.

 

Esta ponte é, aliás, o testemunho em pedra da presença de outros povos na região. Os romanos, que acreditavam ser o Lima um dos cinco rios do Hades, no caso o Lethes, ou Rio do Esquecimento, que provocava amnésia perpétua a quem o atravessasse, foram forçados por essa lenda a uma paragem na travessia, a caminho da Galiza, em 137 a.C.. E só depois de o comandante das legiões, Decimus Junius Brutus, fazer a passagem a só e, chegado à outra margem, chamar os seus homens um por um pelos seus nomes, pôde a máquina de guerra romana retomar o seu caminho de conquista.

Tal é a vetustez das pedras graníticas de Ponte de Lima que muitas histórias, lendas e mitos há para descobrir. Porém, o que impressiona é a capacidade desta vila reinventar-se, acrescentar sempre algo de novo a cada visita sem, no entanto, desmerecer o regresso aos locais já conhecidos. Porque há muito por onde escolher, sobretudo quando o tema é a boa mesa.

 

 

A riqueza da gastronomia e dos vinhos

 

Comecemos pelos vinhos, com destaque, claro está, para a onipresente casta Loureiro (mas sem nunca esquecer o Vinhão!) A variedade representa quase 30% do encepamento total da região e é, por isso, a casta mais plantada nos Vinhos Verdes. Porém, é considerado, de forma unânime, que o terroir onde mais brilha é, precisamente, na sub-região do Lima. É a segunda casta branca mais plantada em Portugal, com 7.240 ha. declarados pelo IVV em 2022.

 

Fazendo o seu percurso desde a nascente, no monte Talariño, em Ourense, na vizinha Galiza, a uma altitude de 975 metros, o rio Lima entra em Portugal depois de 41 km. por terras galegas. Depois de atravessar o Lindoso e a serra do Soajo, o rio que dá nome ao vale passa por Ponte da Barca e Ponte de Lima até desaguar no Atlântico, em Viana do Castelo. No total, 135 km. de trajeto, que ajuda a explicar a tipicidade do terroir. Este vale é uma “porta de entrada” dos ventos atlânticos para o interior da região, detendo-se nos contrafortes da Peneda e Soajo, em Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, onde a altitude marca de forma progressiva o perfil dos vinhos. Pela sua localização central na sub-região, Ponte de Lima beneficia de ambos os perfis climáticos e geográficos, suportados ainda na traço mineral dos solos graníticos, com alguns veios xistosos.

 

Dada a redescoberta recente das valias da Loureiro, a expansão da casta faz-se um pouco por toda a região (fazendo lembrar os tempos em que era presença frequente nas vinhas do vale do Minho, mais a norte), mas é no Lima que tem o seu terroir de eleição e onde conhece o recrudescimento e renovação das vinhas. A ancestralidade, manifestada ainda pelo fato de descender das castas Amaral e Pintosa e pela elevada variedade intravarietal, poderá ser também responsável pela designação da casta – pois dela diz-se que apresenta aromas de louro, mais presentes no vinho quando são elaborados a partir de uvas submaduras.

 

De maturação tardia, apresenta índices de fertilidade elevados e produtividade também alta, podendo ascender a 15 ton. ou mais por hectare. De teor alcoólico médio baixo, pode alcançar teores de acidez superiores a 10 gr./lt. Terpênica, origina vinhos de perfil floral, como laranjeira, acácia ou tília, citrinos, pomóideas e fruto de caroço. Na boca mostram-se sobretudo frescos, vivos, de corpo médio e sabor frutado persistente. Possuem, quando vinificadas em madeira ou com recurso a bâtonnage, grande capacidade de envelhecimento. Aliás, o consenso quanto ao potencial de envelhecimento dos vinhos da variedade Loureiro é crescente. E apresenta grande versatilidade quando a estilos de vinificação, para diferentes categorias e perfis de vinhos.

 

Um grande vinho pede comida à altura. E, nisso, o receituário local é particularmente rico. Reflete não apenas a região, mas o próprio sistema de agricultura, de hoje e de outrora, bem como as histórias e tradições locais. O arroz de sarrabulho é rei. As carnes, com o porco em destaque, temperadas com louro, cravinho, noz-moscada e pimenta, depois de cozinhadas e desfiadas, juntam-se ao arroz, com a adição final dos cominhos. Mas, para além deste prato, o arroz de lampreia e a lampreia à bordalesa, em época própria, ou o bacalhau de cebolada, são outras iguarias locais. Há receitas históricas que regressam às cartas dos restaurantes, como as pataniscas de farinha de milho (com toucinho), o chouriço de língua, os caldos à lavrador e de farinha, a cabidela de cabrito, as batatas guisadas com pezinhos de porco, ensopado de chicharro, o leite real ou o pudim de maçãs.

 

Por tudo isto, deixamos um pequeno roteiro, para que possa descobrir os tesouros de Ponte de Lima. Não foi por acaso, aliás, que mereceu, em 2022, o prêmio “Destino Gastronómico do Ano” da mais influente publicação portuguesa no quesito vinho e gastronomia, a Revista de Vinhos.

 

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Comer

 

1.Restaurante Açude

 

Aquele que já é um clássico de Ponte de Lima, conta com nova gerência e renovado ímpeto, com a qualidade de sempre. Desde logo, a localização, num edifício integralmente em madeira, rodeado por uma mancha verde de jardins, de onde podemos usufruir da magnífica vista que é um regalo para a alma. No prato, o bacalhau com broa ou o polvo à lagareiro são escolhas acertadas. Mas o arroz de sarrabulho e, na época, a lampreia, não lhe ficam atrás. A garrafeira ostenta cerca de três centenas de referências, entre vinhos portugueses e estrangeiros.

 

Restaurante Açude

Caminho São Gonçalo

4990-150 Ponte de Lima

M.965 740 022

Horário: 3ª a sábado, das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 22h00. Domingo das 12h00 às 15h00.

 

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2.Origens Ponte de Lima

 

Depois de criarem o espaço original, nos Arcos de Valdevez – que nasceu de um café para de tornar um marco da restauração local (como hamburgueria), os amigos arcuenses Marco Sousa e Luís Canossa expandiram o conceito para Ponte de Lima. Porém, aqui, o restaurante segue uma linha ‘fine dining’, sem nunca descurar os produtos locais e a gastronomia da região.

 

Origens Ponte de Lima

Avenida 5 de Outubro

4990-054 Ponte de Lima

T.258 024 935

M. 932 385 607

Horário: 3ª a domingo das 12h00 às 15h00 e 19h00 às 2h00

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3.PIMM’s

 

Depois de muitas voltas e quilómetros pelo mundo, Casimiro Quintas regressou à terra natal e em Arcozelo, Ponte de Lima, implementou mais um espaço sob a marca PIMM’s, o conceito por si criado em Luanda, para onde emigrou há cerca de duas décadas. Com quase cinquenta anos de hotelaria, tendo iniciado o seu trajeto como ajudante de cozinha que chegou a chefe de cozinha do célebre Twin’s, no Porto, este empreendedor deitou mãos à empresa Produção de Iguarias e Acepipes Martins dos Santos para desenvolver o projeto de restauração que, em Ponte de Lima, onde antes operava o restaurante A Carvalheira, segue uma carta quase idêntica à de Angola.

 

PIMMS’s

Rua Via Foral D. Manuel, nº833

4990-171 Ponte de Lima

T.258 943 213

M.927 630 361      

Horário: 3ª a Sábado, das 12h00 às 15h00 e das 19h15 às 22h00. Domingo das 12h00 às 15h00

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4.Taberna Porta Vermelha 

 

O nome diz tudo, mas esconde muito. Uma taberna localizada num antigo moinho elétrico, edificado em granito, na qual ressalta a porta vermelha, deixa antever um conceito de restauração para partilha de tapas e petiscos. Localizada no Largo da Freiria, junto ao centro histórico e da ponte, a taberna está voltada para o lindíssimo jardim com o mesmo nome, beneficiando de uma ampla e fresca varanda. Aqui podem ser provados o preguinho no pão com queijo limiano; pataniscas; cogumelos salteados ou; rojões com castanhas, entre outras iguarias. Disponível também a belíssima seleção de cervejas.

 

Taberna Porta Vermelha

Largo da Freiria, nº 33 – Arcozelo

4990-157 Ponte de Lima

E.tabernaportavermelha@gmail.com

M.962 459 230

Horário: 4ª a 2ª, das 13h00 às 24h00.

 

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Dormir

 

5.Carmo´s Boutique Hotel

 

Hotel de luxo em Ponte de Lima que integra a rede Small Luxury Hotels -, esta unidade é um refúgio na natureza, rodeado por majestosos jardins, disponibiliza 15 quartos e suites, dos 30m2 aos 80m2. Estão ainda disponíveis outros serviços e atividades, como tours gastronômicos e vínicos, jantares de degustação com provas de vinhos, Spa, aromaterapia, Ayúrvedica ou até, para os mais afoitos, passeios a cavalo no Parque Peneda Gerês. Junto à piscina exterior, o hotel conta ainda com três tendas de luxo (glamping) que permitem uma estada mais íntima junto da abundante vegetação.

 

Carmo's Boutique Hotel.

Rua Santiago da Gemieira nº10 

4990 – 645 Gemieira - Ponte de Lima 

M.910 587 558

E.info@carmosboutiquehotel.com

 

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6. Paço de Calheiros

 

Solar cuja própria existência remete para a fundação da nacionalidade, o Paço de Calheiros foi edificado nos finais do século XVII. Desde finais dos anos 80, tem uma oferta de turismo rural encantatória, com seis quartos duplos e três twins na casa principal, bem como seis suites twin nos antigos estábulos da casa recuperados, um quarto duplo e dois twins na Casa do Jardim e, na Quinta da Bemvisa, localizada a dois km do Paço de Calheiros, uma casa do século XVII rodeada de campos verdes com cinco quartos, piscina e quadra de ténis. Se possível, é de recomendar a visita à adega, acompanhado pelo enólogo Miguel Viseu, profundo conhecedor da casta Loureiro. 

 

Paço de Calheiros 

4990-575 Calheiros, Ponte de Lima

T. 258 947 164

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7.Quinta do Ameal

 

Os primeiros registros da Quinta do Ameal datam de 1710, propriedade de beleza ímpar, que inclui um anfiteatro natural único com 800 metros de margem do rio Lima. Dos seus cerca de 30 ha., 8 ha são de mata, com uma mancha significativa de castanheiros, nogueiras e pinheiros mansos, alguns com mais de 200 anos. Os 14 ha. de vinha estão exclusivamente plantados com Loureiro. O projeto de vinhos e enoturismo, que foi criado e implementado ao longo de duas décadas por Pedro Araújo, é hoje liderado pelo Esporão. A Casa Grande, com três suites independentes, e as duas suítes da Casa da Vinha, constituem referência do enoturismo da região. 

 

Quinta do Ameal

Refóios do Lima

Ponte de Lima 4990-707

T. 258 947 172

M. 916 907 016

E.reservas.ameal@esporao.com / iolanda@quintadoameal.com

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Visitar

 

8. Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde 

No centro histórico da vila, o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde (CIPVV) representa uma viagem pelo passado e pela história do Vinho Verde e, em particular dos vinhos da casta Loureiro. Desde os diferentes e mais tradicionais sistemas de condução da vinha, as diferentes alfaias, entre várias exposições, permanentes e temporárias, fazem parte do seu espólio. Para além disso, salas de prova e uma ampla coleção dos vinhos locais, podem ser desfrutados neste espaço.

 

Centro de Promoção e Interpretação do Vinho Verde

Rua Fonte da Vila, 28

4990-087 Ponte de Lima

T. 258 900 426

Horário: de 3ª a domingo, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00. 

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9.Casa das Buganvílias

 

Em Calvelo, freguesia a sul do concelho de Ponte de Lima, a Casa das Buganvílias, também conhecida como Quinta da Boavista, é encimada pelas famosas buganvílias que dão nome aos vinhos. O miradouro, que se espraia pelo vale e por cujas encostas se prolongam as vinhas, sobre solos graníticos, plantadas com as castas tradicionais da sub-região, oferece vistas de cortar a respiração.

 

Casa das Buganvílias

Quinta da Boavista

Rua da Gandarinha, n.º 1241, Calvelo

4990-580 Ponte de Lima

M. 917 232 965

E. manuelfigueiredo@eteviol.pt | geral@casadasbuganvilias.com

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Produtores de vinhos

 

10.Adega Cooperativa de Ponte de Lima

 

O maior operador econômico do concelho de Ponte de Lima e um dos maiores de toda a região dos Vinhos Verdes, a Adega de Ponte de Lima, fundada em 1959, vinifica uma média anual de seis milhões de litros; mas possui capacidade instalada para quase o dobro, ou seja, 23 mil pipas, cujas uvas são oriundas de quase 2.000 associados. Liderada por Celeste Patrocínio e tendo como enólogo o consagrado Fernando Moura, a adega tem sabido diversificar o portfólio e alargar mercados.

 

Adega Cooperativa de Ponte de Lima

Rua Conde de Bertiandos 

4990-078 Ponte de Lima

T. 258 909 700

E. geral@adegapontelima.pt

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11.Aphros Wines

 

Vasco Croft é um produtor com uma filosofia muito própria. Um encontro com um monge budista e a partilha de uma garrafa de vinho foram uma epifania para este produtor que, no Casal do Paço Padreiro, terra herdada dos pais em estado de semiabandono, rebatizada como Quinta dos Faunos, recuperou e instalou uma produção sustentável em modo biodinâmico nos seus cerca de 20 ha.. Aqui, com a ajuda uma equipa técnica de primeira água, formada por Miguel Viseu e Tiago Sampaio, Vasco elabora alguns dos mais originais vinhos de Portugal.

 

Aphros Wines

Quinta dos Faunos  - Casal do Paço Padreiro

Rua de Agrelos, 70 - Padreiro (S. Salvador)

4970-500 Arcos de Valdevez 

T. 258 757 487

E. universal@aphros-wine.com

 

Aphros Wine Cellar

Rua da Casa Nova, 374

4990-696 Refoios do Lima 

E. winemaking@aphros-wine.com

 

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12.Casa do Barreiro

 

Mais um exemplo da nobreza das casas senhoriais de Ponte de Lima, a Casa do Barreiro, localizada em Gemieira, data do séc. XVII, abrindo-se com um portentoso pátio central, ladeada por belíssimos jardins e fontes. Aqui é possível admirar uma belíssima coleção de azulejaria portuguesa, da autoria de Jorge Colaço, considerado um dos grandes revivalistas da utilização do azulejo decorativo em Portugal. Entre outros, destaque para um painel em ‘trompe-l’oeil’, com uma escadaria monumental onde posam um casal enamorado e um galgo. Mas, para além do conjunto patrimonial e arquitetônico, aberta aos visitantes e com oito quartos disponíveis, esta é também uma casa agrícola. 

 

Casa do Barreiro

Rua de Santiago de Gemieira, n.º 564

Gemieira 4990-645 Ponte de Lima

T. 258 948 137 

M.966 967 930 

E.casadobarreiro@netc.pt | casadobarreiroth@gmail.com