Uruguai: pequeno país com grandes vinhos a se descobrir

Conheça a história, as regiões, as uvas e os principais produtores de vinhos uruguaios, que vêm despontando no cenário da vinicultura do Novo Mundo

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Redação

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A cada safra, o Uruguai vem conquistando mais espaço no mundo do vinho, em especial no Brasil, o principal destino das exportações atualmente, segundo o Instituto Nacional de Vitivinicultura do Uruguai (INAVI). Em termos quantitativos, o país detém também o posto de segundo maior consumidor per capita da América do Sul, sendo o quarto maior produtor do subcontinente, com cerca de 8.000 hectares de vinhedos. E a qualidade dos vinhos uruguaios, por sua vez, vem atendendo cada vez mais às tendências que os consumidores vêm buscando nos vinhos. “Os níveis de acidez são agradavelmente refrescantes. Este frescor de aromas e sabores é uma das características bem-vindas dos vinhos uruguaios equilibrados de de todos os matizes”, atestam Jancis Robinson e Hugh Johnson no Atlas Mundial do Vinho, sua obra conjunta e de referência. “É evidente que há condições e vontade de produzir vinhos elegantes e com personalidade”.

Tecnologia e natureza explicam essas características que conferem identidade e respeito aos vinhos do Uruguai. De um lado, o fato de a maioria dos cerca de 280 produtores do país serem de pequeno porte, se comparados aos dos países vizinhos, não impede que enólogos e viticultores busquem intercâmbio com outras realidades ou que produtores invistam pesado tanto no desenvolvimento de vinhedos como nas técnicas de vinificação. E um conjunto de fatores naturais permite que os vinhos uruguaios possuam características únicas.

O Uruguai é o único país sul-americano a dispor do clima atlântico em sua produção vitivinícola, que ocorre entre os paralelos 30° e 35° de latitude sul, ou seja, em uma localização correspondente à dos melhores terrois de Argentina, Chile, África do Sul, Nova Zelândia e Austrália. Com 500 quilômetros de costa marítima e relevo sem grandes elevações, há boa intensidade de sol mas a umidade e o frio que vêm do oceano – graças aos ventos e correntes antárticos – se estendem dos vinhedos mais costeiros aos do interior. Com isso, as uvas amadurecem lenta e gradualmente.

HISTÓRIA E REGIÕES PRODUTORAS

Embora se produzisse vinho em território uruguaio já no século XVII, a viticultura moderna do país teve um marco importante em meados de 1870, quando o imigrante basco Don Pascual Harriague plantou os primeiros 200 hectares de mudas de uva Tannat, variedade originária da região francesa do Madiran. Um século e meio depois, ainda hoje essa casta é a mais cultivada no Uruguai mas desde os anos 1970 outras variedades foram introduzidas, sejam tintas, sejam brancas (veja box). Produzem-se vinhos em 16 dos 19 departamentos (estados) uruguaios, mas 90% da produção concentra-se em cinco regiões no Sul do país, perfiladas de Oeste a Leste, sob total influência do Rio da Prata. Da encantadora Colônia de Sacramento à fervilhante Punta del Este, uma viagem irá reunir paisagens, história, badalação, praias e enoturismo, é claro.

Sul:

Canelones: vizinha a Montevidéu, é a maior região vinícola do país, responsável por 60% da produção. A paisagem plana e de leve ondulação divide-se entre campo e praias, o que se reverte em uma grande variedade de solos, com destaque para o granito rosa de 600 milhões de anos encontrado unicamente neste departamento. Com área cultivada de 5.000 hectares pontuada por muitos rios, tem um clima ameno a maior parte do ano, com muitas horas de sol mas também chuvas abundantes.

Montevidéu: o entorno da capital abriga alguns dos vinhedos mais antigos do país e, uma vez que está quase totalmente cercada pelo departamento de Canelones, tem características climáticas e de relevo bem similares às dessa região. Muito próximos do Rio da Prata, os vinhedos recebem constante brisa vinda do Oceano Atlântico, o que propicia longa maturação às uvas, acidez e nível alcoólico moderado aos vinhos.

San José: com cerca de 500 hectares de vinhedos e localizado entre Montevidéu e Colônia de Sacramento, é a quarta maior região do país em produção. O rio San José, afluente do Rio da Prata, corta a região e favorece a entrada de brisa oceânica nos vinhedos, marcados pelo solo argiloso, onde destacam-se os Tannat, entre os tintos, e os Sauvignon Blanc, entre os vinhos brancos.

Sudeste:

Maldonado: a zona vinícola deste departamento tem as maiores altitudes e diversidade de solos, em comparação com outras regiões, além de ótimas permeabilidade e drenagem. Há solos aluviais e cascalho próximos ao vale e à lagoa Garzón, e compostos de rochas de cristal com presença de quartzo, tidas como as mais antigas do planeta. É a zona de maior influência atlântica, por sua localização litorânea – aqui está, por exemplo, Punta del Este, que ostenta cada vez mais destaque na produção vinícola do país.

Sudoeste:

Colônia: este departamento, onde está a cidade de Colônia de Sacramento, com suas ruelas de paralelepípedo e restaurantes charmosos, eleita Patrimônio da Humanidade, abriga a vinícola mais antiga do país, Bodega Los Cerros de San Juan. A região mantém 500 hectares de vinhas, sobretudo na cidade de Carmelo, localizada a noroeste de Colônia de Sacramento, de clima ameno. Os solos são pedregosos, sobretudo às margens do rio San Juan, e dali saem majoritariamente vinhos elaborados com as uvas tintas Cabernet Sauvignon, Syrah, Pinot Noir e Tannat, além de variedades brancas, como Viognier.  

Região central:

Durazno: o clima mais quente e mais horas de sol do que outras regiões vinícolas do país faz com que as uvas amadureçam mais cedo nessa região, que fica bem no centro do país. Varietais como Tannat e Cabernet Sauvignon, de maturação tardia, por exemplo, se dão bem nesse terroir, antes das chuvas de outono.

Cerro Chapeu, Rivera: na fronteira com a promissora região da Campanha, no Brasil, as estações do ano aqui são mais secas e ensolaradas do que as do sul do Uruguai. Com isso, beneficiam-se as castas de amadurecimento mais longo, como as já citadas Tannat e Cabernet Sauvignon, cujos vinhedos se desenvolvem em meio a colinas e encostas (os “cerros”) de até 220 metros de altitude, sobre solos areníticos profundos e de drenagem excepcional.

Oeste:

Paysandú: sob forte influência da umidade vinda do rio Uruguai, a região possui apenas 170 hectares de vinhedos, distribuídos sobre solo arenoso-calcário profundo e de drenagem excepcional. Os dias passam sob grande amplitude térmica – dias quentes e noites frias –, que propiciam a produção de vinhos aromáticos e de sabor expressivo, de variedades como Syrah, Tannat e Cabermet Sauvignon.