Não só de vinhos leves vive a região dos Vinhos Verdes

Tivemos a oportunidade de degustar Alvarinhos espetaculares, com cerca de 20 anos de idade

Fotografia: Miguel Icassatti
Gustavo Giacchero

Gustavo Giacchero

Quando pensamos em Vinho Verde, talvez o que venha em primeiro lugar à nossa memória é aquele estilo de vinho branco leve, fresco e de baixo teor alcoólico, um “vinho fácil” para o dia-a-dia. E isto não deixa de ser verdade: a região dos Vinhos Verdes continua (e espero que continue sempre) a produzir este estilo de vinho dinâmico, ideal para todos os dias, para harmonizar com pratos leves, simples entradas ou até mesmo para um bom bate-papo, ideal para o momento de relaxamento depois de um dia intenso. Mas de alguns anos para cá, vários produtores desta região vêm apresentando para o mercado uma outra versão de Vinhos Verdes, de grande complexidade e com estrutura para evoluir muito bem com o passar dos anos.

E como estes anos estão fazendo bem para os Vinhos Verdes! Recentemente, tivemos a oportunidade de participar de uma vertical de vinhos feitos com a uva Alvarinho, de um clássico produtor da região. Algumas safras do início deste século, com quase 20 anos de evolução, até as mais recentes, que foram as safras de 2018 e 2020. E o que encontramos nas taças das safras mais evoluídas, foram vinhos ainda intensos, vibrantes, com notas aromáticas e gustativas de emocionar!

Eles não deixam de ter as suas notas florais, de frutas cítricas e frutas tropicais que são a sua marca registrada, e começam, além dessas, a apresentar também notas de frutas secas, ervas desidratadas, damasco e um toque de mel. O que deixa o vinho mais complexo, e quando o assunto é harmonização, eles pedem pratos mais untuosos, com boa estrutura, a exemplo de um clássico bacalhau ou até mesmo um belo embutido da região ou um tradicional leitão, já que a estrutura que o vinho adquiriu com o tempo e a sua acidez funcionarão muito bem com esses pratos.

E não deveria ser surpresa para nós de como esses vinhos estão evoluindo bem, já que o terroir da região proporciona uma acidez natural que é de extrema relevância quando o assunto são os vinhos evoluídos, já que a acidez é fundamental para a conservação e envelhecimento saudável da bebida. Além da uva Alvarinho, tivemos a oportunidade de conhecer alguns Vinhos Verdes com as uvas Loureiro e Avesso, com dez anos de evolução, em média, que estão se apresentando muito bem, mostrando outras possibilidades de vinhos evoluídos da região.

É esta diversidade de estilos, dos vinhos leves e dinâmicos para o dia-a-dia aos rótulos estruturados e complexos que andam evoluindo muito bem – e com um detalhe importante, com uma relação de preço-qualidade bem mais interessante do que os vinhos desse estilo de outras regiões do mundo – que faz os Vinhos Verdes ainda mais especiais, e merecedores de mais espaço em nossas taças.