A voz que vem de dentro

Não é fácil ser mulher. Mas percebo a cada dia uma mudança, um movimento de união de todas diante das adversidades, sejam elas por qual bandeira for. Sim, o caminho ainda é longo, mas nada será como antes. Isso é fato. Assim como é fato que mais e mais mulheres se destacam em todos os mercados. Lembro que há alguns anos havia poucas sommèlieres. E falo de São Paulo, o epicentro gastronômico do país. Alexandra Corvo era uma das poucas e trabalhava na época no restaurante D.O.M. De lá, construiu sólida carreira e seguiu para criar a sua própria escola de vinho, a Ciclo das Vinhas - um sucesso irretocável.

Como ela mesma diz, levou porrada, olhares tortos e recados de desencorajamento. Mas ela seguiu firme na sua intuição. “Sabia que era o que eu tinha que fazer. Não tinha grana para alugar o espaço pra criar a escola, mas lembrei da minha avó que com muita garra convenceu meu avô que ganhava pouco, a alugar uma casa grande em Santos e deu a ele a ideia de fazer do espaço não somente a residência deles, mas uma espécie de pensão para os marinheiros. Minha avó teve visão e realizou seu sonho de morar naquela casa especifica. Isso que é garra.  E o exemplo dela me fez acreditar que eu conseguiria. Sinto que falta na maioria de nós, mais atitudes por impulso. Por medo, ficamos querendo nos encaixar, adequar. É um erro”, diz Corvo. 

Forte e decidida, a chef Renata Braune, hoje atuando belamente na Le Cordon Bleu de São Paulo, é do grupo das cozinheiras que demarcaram um espaço na gastronomia. Por anos trabalhando no restaurante Le Chef Rouge, na capital paulista, Renata teve que provar que era capaz. Principalmente para quem achava que cozinha francesa era coisa de chef homem. Mas sempre firme (e de longe acompanhei isso), Renata é hoje uma das mais respeitadas do meio e segue com olhar atento e global. “O Dia da Mulher é apenas um dia para lembrar que ainda há mulheres que não são tratadas como ser humano, que não tem seus direitos respeitados, dentro de várias culturas e países”, enfatiza a chef.

São inúmeros os exemplos que temos, das Viúvas Clicquots da vida às guerreiras negras anônimas. Somos plural, somos vida e não é questão de sexto sentido, mas sim de carregarmos o peso e a responsabilidade de ser mulher. E não importa se usamos luvas de boxes ou salto alto e batom. Todas temos o direito de fazer e ser o que quisermos, desde que isso não prejudique o próximo. Clichê? Pode ser, mas está ai mais um 8 de março para nos lembrar que muita coisa tem que mudar. E pra melhor, por favor.

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