Comprar e revender vinhos, jamais! 

Tenho profundo respeito por opiniões contrárias, porém defenderia sempre que posso investir em muitas coisas visando comercialização posterior, menos o vinho. A bebida de Baco me propicia tantas alegrias, que a meu ver, o investimento no que pode nos dar prazer tem que se sobrepor aos demais.  Quero ter vinhos especiais para compartilhar com amigos e ao bebê-los, poder recordar destes momentos únicos, singulares.

 

Conheci muitas pessoas por aí afora que dizem não vender seus vinhos, porém nunca os abrem. Têm em suas adegas, vinhos raros e caros, com o objetivo apenas de exibi-los como troféus. Como quadros de pintores famosos, dizem que se necessário, poderiam auferir grandes lucros com a venda, mas “não os vendo por preço nenhum!” Provavelmente, muitos desses pertencem ao mundo dos sonhos, onde o preço não conta. E alguns deles devem trazer uma gostosa história sobre o momento da aquisição e seria ótimo contá-la enquanto fosse partilhado. Porém, esses “guardadores de troféus” na hora de compartilhar, abrem apenas seus vinhos mais simples. Passeamos pela sua adega como se estivéssemos em um museu de arte.

 

Por outro lado, conheci muitas pessoas generosas, que entendem que se os vinhos já estão prontos para beber, não há razão de continuar a guardá-los na adega por mais tempo. Diria um deles: “este Bordeaux Premier Cru Classé, da grande safra de 1982, encontra-se em momento ótimo de prova, portanto, vamos bebê-lo e guardá-lo na memória”. Com a sua generosidade nos oferece aquele encontro memorável que nos mostra o sentido mais profundo da vida e tudo que a permeia: amizade, desapego, carinho, prazer, alegria e felicidade. Há melhor investimento que este, perguntaria.

 

Particularmente, sou uma pessoa movida à poesia, vinho e boa companhia (amigos) e guardo em minha memória uma frase de Mario Soldati - escritor, crítico de arte e cineasta italiano: “Il vino è la poesia della terra”. E sabemos que poesia não se vende, internaliza. Sei que a tão almejada felicidade se dá pela maneira com que “viajamos” e as três coisas que vinculo a minha vida me fazem sentir estar no caminho certo.

 

Sabe-se que a vida é curta, então curta a vida! Comprar e beber, sempre! Comprar e revender, jamais! Ao beber, quando possível lembre-se de fazer um brinde de agradecimento à Baco, à vida!

 

Sugiro uma reflexão final: viemos ao mundo para investir nas coisas ou na gente? Acredito que “brincar” com o vinho é melhor que usá-lo como negócio. Tem razão o meu guru, o poeta e psicólogo mineiro Wolber de Alvarenga, quando ao finalizar uma de suas deliciosas poesias - “O Céu”, colocou: “Já ouvi dizer que o céu é para crianças e para aqueles que têm alma de criança”. Agora entendo, quando em volta de uma boa mesa com vinhos especiais, alguns amigos brincam que estamos parecendo crianças e outros afirmam: “acho que estou no céu!”. Investimento em vinho, como negócio, pelo menos para mim, pode parecer o inferno.

 

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