Maria Luísa e Napoleão

 

Não era um casamento por amor. A princesa, que tinha 17 anos foi concedida ao francês, à época com 40 anos, foi educada em um ódio feroz ao "Ogro Corso", que incendiara a Europa e capturara Viena duas vezes, levando a família imperial a fugir. Reza a lenda que Maria Luísa tinha um soldadinho de madeira que batizou como Bonaparte e costumava torturar como vingança.

 

Quando o pai lhe comunicou que seria concedida em casamento a Napoleão, Maria Luísa pensou que era uma brincadeira de mau gosto. Tivera de aceitar porque não lhe restava outro remédio e porque princesas deviam submeter-se à razão do Estado. A jovem, porém, que guardava no coração um primo com quem flertava em Hofburg, deve ter tido muito desgosto ao partir para a França.

 

Napoleão encantara-se por Maria Luísa após consultar uma lista de dezoito princesas casadoiras. Quase optou por Anna Pavlovna Romanova, irmã de Alexandre I da Rússia – que também seria uma aliança interessante. Mas, aos 14 anos a russa ainda não era passível de se casar e Napoleão tinha pressa em conseguir um herdeiro de bom berço para assegurar a sucessão da nova dinastia e uni-la às mais importantes da Europa. “Eu me caso com uma barriga”, teria dito ao se decidir por Maria Luísa. Sem dúvida, experimentara um prazer masoquista em ter como sogro alguém a quem vencera em Wagram.

 

"A Imperatriz adorava bailes e festas, e, o que o imperador mais temia é que a jovem princesa se entediasse. Assim, bailes e espetáculos de gala eram frequentes na corte e em Paris naquela época”, relata Benjamin Constant, primeiro 'valet de chambre' do imperador, no livro "Mémoires intimes de Napoléon I".

 

Depois das monumentais celebrações do casamento em Paris e uma viagem suntuosa através da França e Bélgica, lautas festas ocorreram durante toda a primavera, numa demonstração não só de opulência, mas também em sinal de lealdade ao casal real.

 

No dia 10 de agosto de 1810, foi erguido nos jardins do Petit Trianon uma tenda para a apresentação do Circo Franconi.

 

O Circo fora criado em Paris em 1783 pelo inglês Philip Astley, fundador em Londres do primeiro circo na Europa, e pelo veneziano Antonio Franconi e um irmão, habilidosos treinadores de animais. Desde então alcançou sempre grande sucesso. Em 1807, os dois se estabeleceram na rua du Mont-Thabor e o circo passou a ser conhecido como "Olympique”. Célebre pelos animais adestrados, pelos exercícios de equitação e pelos contorcionistas, também exibia números de pantomima, inspirados tanto em canções populares quanto nas "Metamorfoses" de Ovídio.

 

Napoleão e Maria Luísa já haviam tido oportunidade de assistir às exibições do Circo Franconi no dia 24 de junho, em festa oferecida pela Guarda Imperial.

 

No dia 10 de agosto, no Trianon, o casal imperial assistiu a nova apresentação: “Um circo descoberto, ricamente decorado, fora organizado no Palácio para este fim", nos conta Constant. Cada escudeiro, animado com a presença dos ilustres espectadores, procurava dar o melhor de si. Os Franconi se destacaram em todas as apresentações e sobretudo no minueto e contradança "Le Cerf Coco", inspirado no romance de cavalaria homônimo de Gérard de Nevers.

 

 A 'banne' Trianon, como era chamada a nova tenda, acaba de ser redescoberta. Na apresentação do Circo em agosto de 1810, duas tendas foram encomendadas ao estofador Darrac, que ao mesmo tempo entregou o mobiliário para o Trianon. Ambas as tendas estão preservadas, mas uma de forma fragmentada.

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