Do Julgamento de Paris ao “California dream”

Fotografia: DR
Célia Lourenço

Célia Lourenço

Napa Valley, na Califórnia, é uma região de vinhos absolutamente única. Chega, em certa medida, a poder ser comparada a uma espécie de Disneyland para amantes do vinho, tal o apuro do enoturismo – mais de cinco milhões de visitantes por ano. Mas ficar apenas por aí seria redutor, sobretudo se tivermos em consideração que Napa possui hoje 1.700 produtores e 4.500 viticultores

 

 


Data, 1976. Comemora-se o bicentenário dos Estados Unidos da América. Na França, vários americanos preparam celebrações e, numa pequena loja de vinhos em Paris, “Les Caves de la Madeleine”, um inglês organiza uma prova.

Tão desconhecido é o dono quanto discreta a loja. Talvez por isso, apenas um jornalista respondeu ao convite. Não fora o inesperado resultado e teria sido apenas mais uma prova de vinhos, sem memória. O evento juntou vinhos franceses e da Califórnia e o facto de terem ganho a prova rótulos americanos mudou o curso da história do vinho, passando a ser conhecida como “O Julgamento de Paris”.


Steven Spurrier, então em início de carreira, reconhecido wine expert da revista “Decanter” e da Christie’s, foi o organizador desta prova cega. A partir da loja de Paris, arquitetou um confronto entre vinhos americanos e franceses. Os primeiros, no estilo de Borgonha e Bordéus, Chardonnay e Cabernet Sauvignon, respetivamente. Os segundos, os genuínos Borgonha e Bordéus, escolhidos para ofuscar os americanos (afinal, Spurrier queria divulgar vinhos americanos mas tinha uma loja em Paris). Entre os brancos franceses, um Grand Cru e três 1er Cru. Nos tintos, também não foi meigo e não resisto a enunciar: Mouton Rothchild, Haut-Brion, Montrose e Léoville-las-Cazes.


O painel era composto por nove pessoas, entre as quais a editora da “Revue du Vin” e Aubert de Villaine (Domaine de la Romanée Conti). E, na altura em que o vinho francês dominava o mundo, um painel de provadores experientes, com vinho a correr-lhes nas veias, deu os primeiros lugares a Napa Valley: Chateau Montelena 1973 (branco) e Stag’s Leap 1973 (tinto). A reação foi primeiro de choque, depois de horror. Como era possível?!?...
O jornalista que testemunhou tudo isto foi George M. Taber, correspondente da “Time” em Paris. Também ele não sonhava a importância daquele dia e da notícia que dera.

Desde “O Julgamento de Paris” as mudanças aconteceram de forma vertiginosa, passando a indústria de vinhos da Califórnia de uma escala relativa para números que, no início do século XXI, apontavam já para 1.700 produtores e 4.500 viticultores. Só em Napa, os visitantes deixam atualmente cerca de 1,6 biliões de dólares por ano.


Napa Valley é uma pequena região perto do Pacífico com 16 subregiões, situada na zona noroeste da Califórnia, a norte de São Francisco. É, aliás, uma das mais pequenas regiões vitivinícolas do mundo, representando apenas 4% das uvas da Califórnia. Mas é pequena apenas em área. A terra é a mais cara, atingindo valores impensáveis. A reputação disparou a partir da mítica prova de 1976 e, desde então, o investimento e investigação aliam-se na definição de um estilo.

O vale de Napa tem um clima mediterrânico com muitos microclimas. Localiza-se entre a cordilheira de Mayacama, a oeste, e as montanhas Vacas, a leste, estendendo-se desde a cidade de Calistoga, a norte (mais quente), até Carneros, a sul (mais fresca).
A diversidade de solos é outra das riquezas (cerca de metade das categorias do mundo está aqui representada). Com um passado vulcânico muito ativo, encontram-se solos com lava e cinza, muito ricos em minerais, mais a norte. No sul, imperam os sedimentos gerados pelos avanços e recuos de San Pablo Bay. E as vinhas dividem-se entre as terras mais férteis do vale (vinhos mais poderosos) e as mais pobres das montanhas (vinhos mais frescos).
É terra por excelência de Cabernet Sauvignon. E, além destas variedades, encontra-se Chardonnay, Merlot, Pinot Noir, Zinfandel e Sauvignon Blanc (entre outras de expressão residual).

A história de Napa Valley é recente. Até 1830 era terra dos índios Wappo. Depois, entre 1836 e 1846, toda a Califórnia foi uma província do México.


A combinação do clima mediterrânico com os solos e topografia desde cedo despertaram a vontade de fazer vinho, tendo sido um missionário espanhol o primeiro europeu a explorar Napa (anos 1820) e a registar que essa terra era “propícia ao cultivo de uvas”. Já a primeira vinha terá sido plantada por Yount, sendo da responsabilidade deste americano a primeira prova de vinhos apresentada a jornalistas locais, em 1854, da qual os comentários publicados foram proféticos, estabelecendo um paralelo com vinhos de Bordéus.

Entretanto, em 1849 tinha começado a corrida ao ouro, fenómeno que levou muita gente à Califórnia. Gente que se fixou e enriqueceu. A indústria e produção de vinho não ficou indiferente, assim como se começaram a verificar os primeiros fluxos turísticos para Napa. O vale é rico em águas termais, resultado de uma atividade vulcânica que ainda hoje se verifica, com geisers que podem ser visitados. Calistoga, antes de ter vinha e vinho, desenvolveu-se exatamente com sanatório e termas, datando a primeira unidade hoteleira de 1860.


Os vinhos de Napa começaram a ser reconhecidos e, na Exposição de Paris de 1889, conseguiram 20 medalhas, incluindo quatro de ouro.
Após estas primeiras décadas de desenvolvimento e sucesso, Napa conhece períodos de declínio. No final do século XIX, a filoxera infestou mais de metade da área de vinha. Depois, em 1906, o grande terramoto de São Francisco provocou perda de stocks que levaria anos a recuperar.

E, se muitas das vinhas atacadas pela filoxera não foram replantadas, mais seriam arrancadas com a Lei Seca (1920-1933). Depois, durante a Depressão, as bebidas alcoólicas foram novamente legalizadas, mas a Proibição tinha alterado o gosto dos americanos. O consumidor apenas queria vinhos de má qualidade, sobretudo fortificados no chamado “estilo Porto” e “Madeira” (porque eram mais alcoólicos e igualmente baratos). Seriam necessárias as décadas de 60 e 70 para que o vinho de Napa Valley renascesse com verve.

A importância de Robert Mondavi

Um nome incontornável é Robert Mondavi. Nos anos 40 havia convencido os pais, imigrantes italianos, a comprar a Charles Krug Winery (fundada pelo alemão C. Krug em 1861). Em 1966, cria, com os filhos, a Robert Mondavi Winery, em Oakville, a maior adega de Napa desde a Proibição. Grande em dimensão e em ambição, tinha como objetivo produzir os melhores Cabernet da Califórnia. Investiu em equipamento, em técnicos, nas melhores barricas francesas e, em poucos anos, os vinhos ganhavam provas em Napa e por toda a Califórnia.
Vários foram os produtores que começaram a surgir com uma nova atitude, em muito suportada pelos trabalhos de investigação desenvolvidos desde a Depressão pela Universidade da Califórnia, em Davis, nos quais se estudavam solos, clima, regiões, castas.

A década de 70 fica marcada, como já vimos, pelo “Julgamento de Paris”. Entre os 12 vinhos americanos, oito eram de Napa, o que mostra o peso da região na escolha de Spurrier.

Esta é também a década em que se começa a ouvir falar da cozinha da Califórnia. As próprias adegas começam a sentir necessidade de ter um restaurante e o Domaine Chandon (a primeira casa de Champagne a instalar-se em Napa) é o primeiro produtor a fazê-lo.
Mas é Thomas Keller que abre definitivamente o mundo da alta cozinha a Napa Valley. Em 1994, inaugura o “French Laundry”, em Yountville. O restaurante obtém três estrelas Michelin, situação que se mantém até hoje. Napa Valley era, na altura, o único sítio dos Estados Unidos onde se ia exclusivamente pelo vinho e pela cozinha.


Um ano depois, em St. Helena, instala-se o Culinary Institute of America, reafirmando o papel da região na cultura gastronómica, com cursos de culinária e vinhos para profissionais, e com o Wine Spectator Greystone Restaurant.

Já antes, em finais da década de 1980, os Mondavi e Julia Child haviam começado a explorar a ideia de criar um instituto multidisciplinar para vinho e culinária. E, em 2001, surge na cidade de Napa o American Center for Food, Wine and the Arts - Copia, primeiro no género, com formação e pesquisa. Um museu que contextualizava vinho, comida e arte, com coleção permanente, biblioteca, auditórios, aulas, seminários e espetáculos. Este importante polo cultural foi desenvolvido pelo casal Mondavi e por várias universidades, sendo o local que Julia Child escolheu para o restaurante Julia’s Kitchen. Atualmente, após falência, o Copia pertence ao Culinary Institute of America.


Os anos 90 distinguem-se pelos excessos. Muitos americanos que enriqueceram em Hollywood e Silicon Valley procuram prestígio social em Napa. Os preços disparam e surgem os chamados “trophy wines”, símbolo da “soberba” da época. E a verdade é que a imagem desses vinhos persiste e estará para sempre ligada aos vinhos americanos em geral, sobretudo para um europeu cujo gosto, na essência, é tão diferente.
Estes vinhos são de Cabernet Sauvignon e têm um estilo que levou ao termo “fruit bomb”. São tintos espessos, alcoólicos e, em geral, ao contrário dos vinhos franceses (que, na origem, lhes serviram de modelo), não ficam bem com comida clássica e tradicional. As técnicas usadas são mondas rigorosas, sobre maturação e uso pesado da madeira.


Os vinhos troféu ascenderam rapidamente a grandes pontuações de Robert Parker, com muitos 100 pontos (o primeiro foi Harlen Estate 1994, apenas na quinta colheita), criando uma procura sem paralelo.

Obviamente que este fenómeno gerou uma reação e surgem produtores em contraponto. Procuram estilizar, interpretar o sítio, tirar peso e excesso. Nas adegas-boutique fazem vinhos que procuram exprimir a paisagem e as diferenças de Napa.
Hoje, Napa Valley tem cerca de 430 adegas (num território que tem menos de 50 km de comprimento e uma largura de apenas oito), nas quais existe muito vinho de volume, mas também muita gente que vive na vinha e a ela dedica a vida.

Visitar Napa Valley

Nos últimos 50 anos a indústria do vinho tem sido a principal atividade, tendo despertado um boom que posicionou a região como o maior destino turístico do estado da Califórnia, a seguir à Disneyland – com mais de cinco milhões de visitantes por ano é o maior destino de enoturismo do mundo. 
A paisagem de Napa Valley é única e só podia ser americana. Claro que o filme “Sideways” está na memória quando percorremos as estradas e as vinhas. Mesmo não tendo gostado do filme, o realismo do ambiente não deixa de impressionar pelo rigor da transposição da imagem de Napa. O motel e o restaurante de beira de estrada estão lá, as adegas cheias de turistas, as cores da vinha e da floresta, a luz, os tons da terra, as cidadezinhas com uma rua apenas, as casas de madeira, o cenário que parece wild west. Mas descobre-se muito mais que isto…

O vale tem uma configuração alongada e é atravessado longitudinalmente por duas estradas, Silverado Trail e A29. Percorrê-las é estar num filme, como um road movie, onde a paisagem natural, as casas e as vinhas são um cenário contínuo.

A A29 é a mais movimentada, com tantas adegas que quase deixamos de ligar aos nomes que se sucedem. Opus One, Mondavi, Coppola, Beaulieu, Beringer, Charles Krug, para citar os mais mediáticos. Já Silverado Trail tem uma densidade de produtores um pouco menor, mas não se julgue por isso que é deserta… sucedem-se nomes como Stag’s Leap ou Mumm numa qualquer curva da estrada.


Enquanto nas cidades a arquitetura é muito homogénea (correspondendo exatamente ao nosso imaginário de pequena cidade americana do oeste, com casas de madeira, ruas limpas, muito organizadas e com uma escala de desenho animado), a maior parte das adegas dos maiores produtores apresentam construções grandiosas, que pretendem impressionar. Muitas são pastiche de estilos originais europeus, como o gótico inglês do Chateau Montelena, o sécculo XVIII francês do Domaine Carneros da Taitinger (inspirado num château de Champagne) ou a fortaleza medieval do Castelo di Amorosa. Já Mondavi optou pela arquitetura das missões espanholas do México e, na joint venture com o Baron de Rothschild, Opus One, o edifício transmite modernidade, tecnologia e riqueza. O ecletismo impera e para quem procura assinaturas encontra ainda nomes como o arquiteto pós-modernista Michael Graves, na Clos Pegase, ou a abordagem orgânica de Hundertwasser, na Quixote Winery.

As vinhas sucedem-se. Todas muito cuidadas, altas, cada carreira a formar um plano rigorosíssimo no qual a zona folhear de cada pé ocupa a maior área possível de exposição solar. Tudo regrado, geométrico, não só na implantação, como na volumetria, como se de topiária se tratasse. 


Na segunda metade do mês de setembro apenas algumas zonas de brancos tinham começado a vindima. No entanto, o que era possível observar era que as uvas estavam maduras, alguns cachos apresentavam-se mesmo já um pouco desidratados. E todos os produtores nos disseram o mesmo, “estava quase, mas ainda não era a altura” (!).

Muitas adegas têm salas de prova para receber público, bastando entrar e pagar (como as do “Sideways”, cheias de turistas). Muitas outras apenas recebem visitantes mediante marcação prévia, pelo que é prudente ter o cuidado de perceber que vinhos queremos conhecer e planear as visitas.


Todas as cidades do vale são acolhedoras e qualquer uma tem localização conveniente. No entanto, as duas que nos parecem mais especiais são St. Helena e Yountville.

Em St. Helena, onde fica o exclusivo hotel Meadowood e o The Restaurant, três estrelas Michelin, existem várias alternativas de restaurantes, sendo o The Press uma escolha incontornável para encontrar uma carta de vinhos notável, um sommelier de grande nível, Scott Brenner, e uma cozinha americana clássica com produtos de excelência. Tudo num ambiente informal.


Na refeição, para o lobster cake e coração de alface (devo deixar a nota que os legumes, em Napa, são absolutamente magníficos), seguimos a recomendação: um Chardonnay de Carneros (subregião de Napa), Hyde Vineyard Le Début 2014. É um vinho muito brilhante, sem o peso que associamos à casta fora da Borgonha. Aliás, depois de sabermos quem é o produtor, compreendemos o estilo tão “Puligny Montrachet”. Trata-se de Aubert de Villaine numa joint venture com a família Hyde (local).

Falava, entretanto, com Scott no sentido de perceber o Pinot Noir da Califórnia. Nunca tinha encontrado um grande vinho da casta e a curiosidade era imensa. Então, para o dry-aged rib eye, um bife de qualidade inenarrável, com as divinas hand-cut kennebec potato fries, chegou a oportunidade da descoberta: Hanzell 1986 e Calera Reed Vineyard 2002, o primeiro de Sonoma Valley (região vizinha de Napa), o segundo de Mt. Harlan (Central Coast). Ambos austeros, personalidades distintas e vincadas, com a evidência da casta a expressar um verdadeiro Pinot Noir. Vinhos antigos para a escala americana e tão bonitos. A idade deu-lhes camadas de significado. Não são cópia de nada. São autênticos e individualizados. Rendi-me… não só ao Pinot mas a todo o conjunto: menu, vinhos, sommelier, serviço impecável e alegria, fez da refeição um momento memorável.


E, para satisfazer o prazer das compras, mesmo ao lado do restaurante, existe um Dean and Deluca (maior que o de Nova Iorque). No outro extremo da cidade, a loja e livraria do Culinary Institute of America são imperdíveis, tal como o St. Helena Wine Center e os chocolates artesanais Wood House.
Quanto a Yountville, é lá que encontramos o French Laundry de Thomas Keller (mesmo sem ir ao restaurante, é possível passear pela famosa horta como se estivéssemos num jardim). Temos também oportunidade de conhecer a cozinha de bistrô francês – o restaurante Bouchon, com uma estrela Michelin, e a padaria Bouchon Bakery, inspirada na melhor tradição francesa e americana (no famoso pão sourdough de São Francisco), com pastelaria e refeições.
Napa pode ser vista de balão (várias são as empresas que organizam os passeios) e de comboio – no Napa Valley Wine Train, cujas carruagens históricas percorrem a região, com refeições a bordo e provas de vinhos. Também os passeios de bicicleta e a pé são uma ótima opção, já que o vale é praticamente plano. Depois, claro, existem inúmeras hipóteses de tours, organizados de múltiplas formas, desde as mais discretas até às excêntricas limousines.
Além das provas, mais ou menos personalizadas, em grandes produtores ou adegas-boutique, organizadas em salas de prova institucionais ou junto às vinhas, a uma escala industrial ou de enorme proximidade, também é possível assistir a master classes e cursos no Culinary Institute of America, tanto no histórico Greystone, em St. Helena, como no Copia, na cidade de Napa (as agendas são muito dinâmicas).

Dois produtores

Deixando a ribalta da A29, entramos num mundo diferente, como uma realidade paralela de produtores mais afastados, que nos recebem em casa. Não sejamos ingénuos, é o negócio e fazem-no como ninguém. Mas a verdade é que nos sentimos bem. E as histórias ajudam a construir uma imagem mais realista da filosofia contemporânea do vinho da Califórnia, sendo Napa um caso tão especial e particularmente bem-sucedido.
Atravessamos vinhas que partilham área com floresta e esquilos e somos recebidos na casa de Patrice e Samantha Breton. A prova estava preparada na varanda e fui recebida com uma flute de champanhe blanc de blancs Pierre Péters (Le Mesnil Sur Oger… não podia começar melhor, pensei!).


Patrice é canadiano e está em Napa desde 2001. No Canadá foi muito bem-sucedido no mundo da informática, tendo decidido aplicar os resultados desses anos na produção de vinho.

E quando pensamos que nos afastamos da ribalta, percebemos que em Napa até a mais discreta casa na floresta é a ribalta. Os Vice Versa são vinhos que têm na origem uvas das mais reputadas vinhas Beckstoffer de Cabernet Sauvignon, cujos nomes são sinónimo de prestígio (e valor, quer comercial quer para a crítica): Las Piedras, Dr. Crane (ambos St. Helena) e To-Kalon (Oakville). P. Breton vai também buscar um nome de peso para a enologia, Paul Hobbs (começou com Mondavi, participou no Opus One e é hoje consultor de dezenas de produtores).

Patrice faz a pergunta “o que é mais importante para conseguir um grande vinho?” e dá imediatamente a resposta: “balance!” (equilíbrio). Tem por lema a trilogia “pureza-equilíbrio-elegância”. Nos Vice Versa, a tradução desta equação é encontrada com concentração e potência (temos que fazer o exercício de aferir a nossa escala e os nossos modelos para compreender verdadeiramente a sinceridade destas palavras). A expressão do Cabernet em cada uma das vinhas que escolheu traduz-se em vinhos ricos e super concentrados, de estrutura sólida. Diferentes entre si, o Las Piedras é mais mineral, o Dr. Cran mais fresco (na prova, Patrice falou de La Mission Haut Brion… algo musculado), o To-Kalon mais opulento.

Patrice, Samantha e Bouchon (o cão) recebem de braços abertos e com uma simpatia ímpar. Na mesa, amostras dos solos em jarras de vidro comunicam a crença que a verdadeira identidade está no local. As garrafas dos vinhos são imponentes, poderosas, de vidro espesso. Nada podia ser mais verdadeiro…


A adega Hourglass fica em Calistoga, no sopé das montanhas que delimitam o vale a este.
A propriedade é de uma beleza emocionante, com enquadramentos impressionistas e uma luz de final de tarde absolutamente mágica.
Fomos recebidos por Jeff Smith, o dono, com um copo de Sauvignon Blanc 2015. Seco, mineral, com delicadeza em vez de exuberância hiper frutada.

Outro grande começo.

Em 1964, apenas com um ano, a família muda-se de S. Francisco para Napa. Foi músico na juventude, ao mesmo tempo que trabalhava com Mondavi. Quando o pai morreu, em 1990, herdou a vinha Hourglass, em St. Helena.

Depois, já em 2006, compra a Blueline Vineyard, onde nos encontramos. E é aqui que constrói a nova adega, uma peça de arquitetura incrível, no ponto onde o vale acaba e a montanha começa. A adega foi escavada na rocha, estando apenas no exterior uma cobertura metálica, como um enclave na topografia que serve de abrigo às cubas de fermentação. 


Na visita, somos conduzidos ao coração da montanha, entrando na cave de barricas. A prova e a conversa com Jeff acontece no ambiente intimista de uma “caverna”, cujo único mobiliário é uma enorme mesa de pedra e alguns sofás.

Hourglass tem vários rótulos: Sauvignon Blanc, Merlot, Cabernet Franc, Malbec e Cabernet Sauvignon, divididos entre os “Hourglass Estate” e “Blueline Estate”, ou seja, é sempre feita a distinção da origem dos vinhos.

Jeff prefere vinhos vibrantes e, para tal, retira densidade e concentração para ganhar acidez e mineralidade. O enólogo, Tony Biagi, partilha esse gosto e todo o trabalho é feito com rigor laboratorial e científico.
No Blueline Estate Cabernet Sauvignon 2014, Jeff refere 4% de Petit Verdot e 6% de Malbec. Perguntei a razão da presença do Malbec. A resposta está na relação taninos/cor, tendo Jeff usado entusiasmadas descrições das cadeias de moléculas (monómeros e polímeros) das duas castas, fazendo mímica com os dedos para ilustrar as suas palavras.

Estamos perante uma corrente de pensamento muito séria. A beleza é interpretada como arte. E a ciência é um meio para atingir esse fim.

 

 

 

 

Sugestões para conhecer melhor Napa Valley


Restaurantes:
•    The Press (St. Helena)
•    The Restaurant at Meadowood (St. Helena)
•    Greystone Restaurante (St. Helena)
•    The French Laundry (Yountville)
•    Bouchon (Yountville)
•    Brix (Yountville)
•    The Restaurante @ Copia (Napa)


Compras:
•    Dean and Deluca (St. Helena)
•    The Culinary Institute of America (St. Helena)
•    Woodhouse Chocolate (St. Helena)
•    St Helena Wine Center
•    Bouchon Bakery (Yountville)
•    CIA Copia (Napa)
•    Oxbow Public Market (Napa)
•    Olive Oil Company (Calistoga e St. Helena)


Hotéis:
•    Meadowood (St. Helena)
•    Augerge du Soleil (Rutherford)
•    Bardessono (Yountville)


Atividades:
•    Adegas: visitas e provas 
•    Napa Valley Wine Train (Napa)
•    Passeios de balão (Yountville e Napa)
•    Cursos de culinária e vinhos: The Culinary Institute of America (St. Helena) e CIA Copia (Napa)
•    Spas (Calistoga)
•    Golf (Napa, Yountville e St. Helena)